Studies in the Scriptures

Tabernacle Shadows

 The PhotoDrama of Creation

 

ESTUDOS

DAS

ESCRITURAS

 

SÉRIE II

 O Tempo
Está Próximo

 

ESTUDO V

MANEIRA DA VOLTA E DO

APARECIMENTO DO NOSSO SENHOR

 

A Harmonia da Maneira do Segundo Advento do nosso Senhor com outros Aspectos do Plano Divino — Como e Quando a Igreja O Verá — Como e Quando a Glória do Senhor se Revelará; e Toda a Carne Juntamente a Verá — Afirmações Aparentemente Contraditórias Demonstradas serem Harmoniosas — Vem “Como um Ladrão” — Não com Aparência Exterior — E no entanto “Com Grande Brado” — Com “Vozes” — E “ao Som da Trombeta” — Se Manifestará “em Chama de Fogo, e Tomará Vingança” — E entretanto, “Há de Vir Assim Como” Foi — Demonstrada a Importância de Tempo Profético nesta Conexão — A Harmonia de Indicações Presentes.           

[103] À VISTA do que acabamos de considerar, o rápido fim dos Tempos dos Gentios, e a garantia de que a consumação da esperança da Igreja deverá anteceder o seu fim, somente estimula o apetite dos que agora estão esperando a consolação de Israel. Tais terão anseio por qualquer informação que o nosso Pai pode ter providenciado por meio dos profetas, no que toca à “ceifa”, o fim ou período final desta idade — a separação do trigo do joio no meio dos membros viventes da Igreja nominal, e o tempo da transformação dos vencedores, para estarem com o seu Senhor e Cabeça e semelhantes a ele.

Entretanto, para apreciar a racionalidade de ensino profético sobre estes assuntos profundamente interessantes, é absolutamente necessário termos visão clara tanto do objetivo da segunda vinda do nosso Senhor, como da maneira em que ele se revelará. Confiamos em que todos os leitores atuais ao ler o Volume I se têm convencido de que o objetivo de sua vinda é para reconciliar “quem quiser” do mundo, com Deus, por um processo de reger, [104] ensinar e disciplinar, chamado julgamento e bênção. A maneira da vinda e do aparecimento do Senhor, por conseguinte, é de importância suprema, antes de proceder no nosso estudo do tempo da ceifa, etc. O estudante tem que manter claramente na mente o objetivo, enquanto estuda a maneira da volta do nosso Senhor; e ambos destes, quando vem a estudar o tempo. Isto é necessário como contrapesar às opiniões errôneas já preocupando muitas mentes, baseadas em idéias falsas tanto do objetivo como da maneira da vinda do nosso Senhor.

Compreenda e tenha na mente tão firmemente como possível o ato, já demonstrado, que o Plano de Deus é uma totalidade harmoniosa, a qual está sendo elaborada por meio de Cristo; e que a obra do segundo advento fica relacionada com a obra do primeiro como efeito da causa: isto é, que a grande obra da Restauração no segundo advento segue a obra da Redenção realizada no primeiro advento como uma seqüência lógica segundo o Plano Divino. Por conseguinte, a volta do Senhor é a aurora da esperança para o mundo, o tempo dos outorgados favores assegurados pela redenção — sendo a Idade Evangélica apenas um parênteses intervindo, durante a qual a esposa de Cristo é escolhida, para associar-se com o seu Senhor no grande trabalho da restauração que Ele vem para realizar.

E já que a Igreja de Cristo, que tem estado desenvolvendo-se durante a Idade Evangélica, há de associar-se com o seu Senhor no grande trabalho de restituição da Idade Milenária, a primeira obra de Cristo no segundo advento tem que ser o ajuntamento da sua Igreja eleita, à qual é feita referência pelo profeta (Sal. 50:5), dizendo: “Congregarei os meus santos, aqueles que fizeram comigo um pacto por meio de sacrifícios.” Esta congregação ou tempo de ceifa está no período de sobreposição das duas idades. Como sera mostrado, é um período de quarenta anos, * que tanto termina a [105] Idade Evangélica como introduz a Idade Milenária. (Veja o Vol. I. pp. 253-256; 270-274; ou pp. 219-221; 234-237, 2.ª edição; e o Mapa das Idades.) Este período da ceifa não somente efetua a separação do trigo do joio na Igreja nominal do Evangelho e no ajuntamento e glorificação da classe do trigo; mas também há de efetuar a queima (destruição) do joio, ou imitação do trigo — não como indivíduos; o fogo de destruição é simbólico assim como o joio), e a vindima e destruição da frutificação corrupta da “vinha da terra” (ambição, avareza e egoísmo humanos), que tem estado crescendo e amadurecendo através de séculos nos reinos do mundo e nas várias organizações civis e sociais entre os homens.

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*Veja o Prefácio do Autor, página III-V

 

Embora que, quando tratando do objetivo da volta do nosso Senhor, demonstramos que seria uma vinda pessoal, nos permitam mais uma vez guardar o estudante contra confusão de pensamento tomando em consideração as duas aparentemente incompatíveis expressões do nosso Senhor — “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (aionos idade), e, “vou preparar-vos lugar. E, ... virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo”. (Mat. 28:20; João 14:2, 3) O seguinte incidente servirá de ilustração da harmonia das duas promessas: — Um amigo disse a outro enquanto estavam para separar-se, lembre-se, estarei contigo por toda a tua viagem. Como? Naturalmente não em pessoa; pois tomaram trens em direções opostas para lugares distantes. A idéia foi que em amor e pensamento e cuidado um pelo outro, não seriam separados. Num sentido semelhante, contudo mais amplo, o Senhor sempre tem estado com a sua Igreja, o seu poder divino habilita-o para vigiar, dirigir e assistir esta Igreja desde o princípio até o fim. No entanto, agora estamos considerando a presença do nosso Senhor conosco não neste sentido figurativo, senão a maneira da sua segunda presença pessoal e do seu aparecimento, “quando naquele dia ele vier para ser glorificado nos seus santos e para ser admirado em todos os que tiverem crido”.

As Escrituras ensinam que Cristo vem de novo para reinar; que é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos de- [106] baixo de seus pés — todos os oponentes, todas as coisas que estorvariam a grande restituição que ele vem para efetuar — o último inimigo a ser destruído é a morte (1 Cor. 15:25, 26); e que ele reinará mil anos. É portanto apenas como se deve esperar, que encontramos muito mais lugar na profecia dedicado ao Segundo advento e os seus mil anos de reinado triunfante e derrota do mal, do que aos trinta e quatro anos do primeiro advento para a redenção. E como temos percebido que a profecia toca os vários pontos importantes desses trinta e quatro anos, desde Belém e Nazaré até o fel e vinagre, as vestes repartidas, a cruz, o sepulcro e a ressurreição, assim achamos que a profecia do mesmo modo toca a vários pontos dos mil anos da segunda presença, particularmente o seu começo e fim.

A segunda presença do nosso Senhor abrangerá um período de tempo mais longo do que a primeira. A missão do seu primeiro advento terminou em menos de trinta e quatro anos, enquanto que são requeridos mil anos para levar a cabo a obra designada da sua presença. Assim pode ver-se numa olhada que, ao passo que a obra do primeiro advento não foi de menor importância do que aquela do segundo advento — sim, ainda que foi tão importante que o trabalho do segundo advento nunca poderia ter sido possível sem o primeiro — porém não estava tão diferente, e daqui requeria menos descrição do que a obra do segundo advento.

Ao considerar o segundo advento, igualmente como o primeiro advento, não devemos esperar para todas as profecias marcarem um, particularmente significativo momento da chegada do nosso Senhor, e chamarem a atenção de todos os homens ao fato da sua presença. Não é tal o método usual de Deus; não foi tal o método no primeiro advento. O primeiro advento do Messias não foi assinalado por qualquer demonstração repentina ou surpreendente fora da ordem normal, senão que foi manifestado e comprovado pelo cumprimento gradual de profecia, mostrando a observadores [107] atentos que os acontecimentos que deveriam ser esperados estavam efetuando-se em seu tempo. E assim será no seu segundo advento. É de menor importância que descubramos o momento preciso da sua chegada, do que discernirmos o fato da sua presença quando ele tinha vindo, exatamente como no primeiro advento era importante poder reconhecer a sua presença e quanto antes melhor, entretanto muito menos importante foi para saber a data exata do seu nascimento. Ao considerar o segundo advento, o ato de vinda e o momento de chegada estão também freqüentemente no pensamento, enquanto que deve considerar-se como um período de presença, como foi o primeiro advento. O momento preciso no qual começaria essa presença pareceria, então, menos importante, e o seu objetivo e trabalho durante o período da sua presence receberia a consideração principal.

Devemos de ter em mente, também, que o nosso Senhor já não é mais um ser humano; que como ser humano se deu a si mesmo em resgate pelos homens, tendo tornado-se homem por esse mesmo propósito. (I Tim. 2:6; Heb. 10:4, 5; I Cor. 15:21, 22) Ele está agora exaltado soberanamente, à natureza divina. Portanto Paulo disse: “ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos desse modo”. (2 Cor. 5:16) Ele foi ressuscitado dentre os mortos um Espírito (Ser espiritual) vivificante (I Cor. 15:45), e não um homem, da terra, terreno. Já não é mais humano em nenhum sentido ou grau; pois não devemos esquecer do que temos aprendido (Veja o Volume I, Estudo 10) — que as naturezas são separadas e distintas. Desde que ele já não é mais em nenhum sentido ou grau um ser humano, não devemos esperar para ele vir mais uma vez como ser humano, como no primeiro advento. Sua segunda vinda há de ser numa maneira diferente.

Notando o fato de que a transformação do nosso Senhor desde a natureza humana até a divina na sua ressurreição foi uma transformação ainda mais grande da que aconteceu uns trinta e [108] quatro anos previamente, quando ele deixou a glória de ser espiritual e “se fez carne”, podemos considerar com grande proveito muito minuciosamente todas as suas ações durante os quarenta dias depois da sua ressurreição antes que fosse “para o Pai”; porque é o Jesus ressurgido desses quarenta dias quem há de vir de novo, e não o Cristo Jesus, homem, o qual se deu a si mesmo em resgate nosso, à morte. Ele que foi morto como um ser de carne, foi também na sua ressurreição vivificado um ser espiritual. — I Ped. 3:18*

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*Nesta passagem as palavras “na” e “no” são fornecidas arbitrariamente pelos tradutores, e são ilusórias. O grego diz simplesmente — “morto na carne, mas vivificado no espírito”. O nosso Senhor foi morto um ser carnal ou humano, mas foi vivificado dentre os mortos um ser espiritual. E visto que a Igreja há de ser “transformada” para que possa ser como Cristo, é evidente que a transformação que ocorreu no Cabeça foi de uma espécie parecida a essa descrita como reservada para os vencedores, os quais serão transformados da natureza humana em divina, e feitos semelhantes a ele — “participantes da natureza divina”. Daqui, a seguinte descrição da transformação dos santos é aplicável também ao seu Senhor; a saber “Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder. Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual.”

No seu segundo advento Ele não vem para ser sujeito às autoridades que agora existem, para pagar o tributo a César e para sofrer a humilhação, injustiça e violência; mas vem para reinar, exercendo toda a autoridade no céu e na terra. Não vem no corpo da sua humilhação, um corpo humano, que tomou para sofrer a morte, inferior ao seu corpo glorioso anterior (Heb. 2:9); senão no seu corpo espiritual glorioso, que é “a expressa imagem do seu Ser” (do Ser do Pai, Deus) (Heb. 1:1, 3); visto que, por causa da sua obediência ainda até a morte, já está soberanamente exaltado à semelhança e natureza divina, e foi lhe dado o nome que é sobre todo nome — sendo excetuado o nome do Pai unicamente. (Fil. 2:9; I Cor. 15:27) O Apóstolo mostra que “ainda não é manifesto” ao nosso entendimento humano como Ele agora é; daqui não sabemos o que havemos de ser quando se tornaremos feitos semelhantes a ele, mas nós (a Igreja) podemos regozijarmo-nos na segurança [109] que algum dia estaremos com ele, e seremos semelhantes a ele, e assim como é o veremos (1 João 3:2) — não como estava no seu primeiro advento em humilhação, quando tinha deixado sua glória anterior e se fez pobre, para que pela sua pobreza pudéssemos ser enriquecidos.

Se consideramos a sabedoria e prudência dos métodos do nosso Senhor de manifestar a sua presença aos seus discípulos depois da sua ressurreição como também previamente, pode nos ajudá-lo a lembrarmos que a mesma sabedoria será demonstrada nos seus métodos de revelar-se no seu segundo advento, tanto à Igreja como ao mundo — métodos não necessariamente similares, mas em cada caso bem convenientes para o seu objetivo, o que nunca está para alarmar ou excitar os homens, senão para convencer os seus raciocínios moderados e calmos das grandes verdades para produzirem impressão sobre eles. O primeiro advento do nosso Senhor não foi um evento espantador, excitante, nem alarmante. Quão quietamente e moderadamente veio! Assim foi até tal grau que apenas os que tinham fé e humildade puderam reconhecer na criança de nascimento humilde, no homem de dores, no amigo dos humildes e pobres, e por fim no crucificado, o Messias já esperado por longo tempo.

Depois da sua ressurreição, a manifestação da sua presença seria naturalmente um fato mais assombroso, particularmente quando considera-se a sua transformação de natureza. Contudo o fato da sua ressurreição, junto com o fato da sua natureza mudada, havia de ser manifestado plenamente, não a todo o mundo nesse então, senão a testemunhas escolhidas que dariam testemunho acreditável do acontecimento a gerações sucessivas. Se todo o mundo tivesse inteirado-se do acontecimento naquele tempo, o testemunho estendendo-se aos nossos dias provavelmente teria sido menos digno de confiança, sendo colorido e torcido pelas idéias dos homens e misturado com as suas tradições, a tal grau que a verdade poderia aparecer quase ou plenamente inacreditável. Mas Deus a confiou apenas a testemunhas escolhidas, fiéis e meritórias; e en [110] quanto notamos a consideração, que cada um note quão perfeitamente o objetivo foi concluído, e quão clara, positiva e convincente foi a prova da ressurreição e transformação de Cristo oferecida-lhes. Note também o cuidado com que evitou alarmá-los ou indevidamente excitá-los enquanto fazia manifesto e dava ênfase a estas grandes verdades. E pode assegurar-se de que a mesma sabedoria, prudência e habilidade se manifestarão nos seus métodos de fazer conhecer o fato da sua gloriosa presença no seu segundo advento. O raciocínio calmo e moderado será convincente em todo caso, ainda que o mundo em geral precisará de ser trazido por meio de disciplina severa para a atitude apropriada para receber o testemunho, enquanto os que são de coração reto terão o abençoado entendimento mais cedo. Todas as provas da sua ressurreição e transformação à natureza espiritual não foram dadas aos seus discípulos imediatamente, senão ao passo que podiam suportá-las e na maneira calculada para impressioná-los o mais profundamente.

Durante os três anos e meio do ministério do nosso Senhor, os seus discípulos haviam sacrificado amigos, reputação, negócios, etc., para dedicar tempo e energia ao anúncio da presença do Messias e o estabelecimento do seu reino. Mas eles tinham idéias necessariamente cruas com respeito à maneira e ao tempo da exaltação do seu Mestre, e da sua prometida exaltação com ele. Também não era o pleno conhecimento nesse então necessário; foi realmente suficiente que eles deviam aceitar cada passo como isto devia vir a ser. Portanto o Mestre os ensinou pouco a pouco, tanto quanto eram aptos para aceitá-lo. E perto do fim do seu ministério disse: “Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; ... e vós ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.” — João 16:12, 13; 14:26.

Quem poderá contar o seu grande desapontamento, ainda que  [111] tanto quanto tinham sido prevenidos contra isto, quando eles viram o Mestre repentinamente tirado deles e ignominiosamente crucificado como um criminoso — este cujo reino e glória eles tinham estado esperando e anunciando, e que apenas cinco dias antes de sua crucificação tinha parecido a eles tão perto da realização. (João 12:1, 12-19) Ainda quando souberam que ele foi falsamente acusado e injustamente crucificado, isto não alterou o fato de que as suas esperanças nacionais por longo tempo alimentadas de um rei judaico, que restauraria a sua nação à influência e poder em conjunto com as suas esperanças individuais, ambições e imaginações de cargos de importância e altas honras no Reino, inesperadamente demoliram-se todas por este desfavorável transtorno que tinham sofrido na crucificação do seu rei.

Muito bem sabia o Mestre quanto desolados, incertos e perplexes eles se sentiriam; pois assim foi escrito pelo profeta: “Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão.” (Zac. 13:7; Mar. 14:27) E durante os quarenta dias entre a sua ressurreição e ascensão, portanto, foi a sua preocupação principal ajuntá-los de novo, e restabelecer a sua fé nele como o Messias por longo tempo esperado, para demonstrar-lhes o fato da sua ressurreição, e que desde sua ressurreição, ainda que mantinha a mesma individualidade, ele já não era humano, senão um ser spiritual exaltado, tendo “toda a autoridade no céu e na terra”.— Mat. 28:18.

Ele divulgava a eles gradualmente a notícia da sua ressurreição — primeiro, através das mulheres (Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, também outras que estavam com elas — Mar. 16:1; Luc. 24:1, 10), que foram ao sepulcro muito cedo para ungir o seu corpo morto com especiarias aromáticas. Ao passo que pensavam a quem poderiam pedir para revolver a pedra da porta do sepulcro, eis que houvera um grande terremoto; e quando vieram acharam a pedra revolvida, e um anjo do Senhor estava sentado sobre a pedra, que disse às mulheres: “Não temais vós; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Não está [112] aqui, porque ressurgiu, como ele disse. Vinde, vede o lugar onde jazia; e ide depressa, e dizei aos seus discípulos que ressurgiu dos mortos; e eis que vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis.” — Mat. 28:5-7.

Parece que Maria Madalena separou-se das outras mulheres e correu a anunciá-lo a Pedro e João (João 20:1, 2), enquanto as outras foram para dizer aos demais discípulos, e que depois que ela tinha partido delas, Jesus apareceu às outras mulheres no caminho, dizendo (Mat. 28:9, 10): “Salve.” E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, e o adoraram. Então lhes disse Jesus: “Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão para a Galiléia [para sua casa], ali me verão.” E com temor e grande alegria correram a anunciá-lo aos outros discípulos. Nos seus sentimentos misturados de surpresa, perplexidade, alegria, temor e a sua confusão geral, quase não sabiam como relatar a sua experiência estranha e maravilhosa. Quando Maria foi ter com Pedro e João, tristemente disse: “Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.” (João 20:2) As outras mulheres declararam que junto ao sepulcro tinham tido uma visão de anjos que diziam estar ele vivo (Luc. 24:22, 23), e também como elas mais tarde encontraram o Senhor no caminho. — Mat. 28:8, 10.

A maioria dos discípulos evidentemente consideraram o seu relato como mera excitação supersticiosa, todavia Pedro e João resolveram ir e ver por eles mesmos; e Maria voltou ao sepulcro com eles. Somente o que Pedro e João viram era que o corpo já não estava lá, e que os panos de enterro estavam ali deixados, e que a pedra já estava revolvida da porta. Portanto, na perplexidade eles voltaram, ainda que a Maria todavia ficou lá chorando. Enquanto chorava, abaixou-se e olhou para dentro do sepulcro, e viu dois anjos, que perguntaram-lhe “Mulher, por que choras?” Ela respondeu-lhes: “Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.” E ao voltar-se para trás, viu a Jesus ali em pé, mas não  [113] sabia que era ele. Perguntou-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeulhe: “Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.” Então, no tom de voz familiar anterior que ela prontamente reconheceu, disse-lhe Jesus: “Maria!”

Isto foi o suficiente para estabelecer a sua fé na declaração do anjo, que Ele ressurgiu, o que até esse momento lhe tinha parecido como um sonho ou um delírio; e na sua alegria ela exclamou, “Mestre!” O seu primeiro impulso foi o de abraçar-lhe, e permanecer em sua presença. Porém Jesus informou-lhe moderadamente que agora ela tem uma missão para levar a cabo, em testificar do fato da sua ressurreição, e que ele devia apressadamente levar a mensagem e estabelecer a fé dos outros discípulos ainda na perplexidade e incerteza, dizendo: “Deixa de me tocar [grego, haptomai, abraçar; não demora para demonstração adicional da sua afeição agora]; porque ainda não subi ao Pai [ainda estarei convosco por apenas um pouco de tempo]; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” (João 20:17) Por meio das outras mulheres também lhes tinha informado que se reuniria com eles na Galiléia.

Em seguida, se aproximou de dois discípulos tristes e perplexos, no momento em que iam estes de Jerusalém para Emaús, e lhes perguntou o motivo da sua tristeza e desanimação. (Luc. 24:13-35) E um deles respondeu-lhe: “És tu o único peregrino em Jerusalém que não soube das coisas que nela têm sucedido nestes dias? Ao que ele lhes perguntou: Quais? Disseram-lhe: As que dizem respeito a Jesus, o nazareno, que foi profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele [114] quem havia de remir Israel; e, além de tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que estas coisas aconteceram. [Aqui eles provavelmente estavam lembrando as palavras de João 2:19, 21, 22.] Verdade é, também, que algumas mulheres do nosso meio nos encheram de espanto; pois foram de madrugada ao sepulcro e, não achando o corpo dele, voltaram, declarando que tinham tido uma visão de anjos que diziam estar ele vivo. Além disso, alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; a ele, porém, não o viram.”

Não é de admirar que eles estiveram perplexos; quanto estranho isto tudo pareceu! quão peculiar e sensacional tinham sido os acontecimentos dos passados poucos dias!

Então o forasteiro lhes pregou um sermão animador desde as profecias, mostrando-lhes que as mesmas coisas que lhes tinham assim desanimado foram as coisas que os profetas tinham predito concernentes ao verdadeiro Messias: que antes de que Ele pudesse governar, abençoar e levantar o Israel e todo o mundo, primeiro devia que redimi-los com a sua própria vida desde a maldição da morte, que veio sobre todos através de Adão, e que depois, levantado para vida e glória por Jeová, o Mestre deles cumpriria tudo o que pelos profetas foi escrito concernente à sua glória e honra futura, tão verdadeiramente como ele tinha cumprido essas profecias que predisseram os seus sofrimentos, humilhação e morte. Um pregador admirável! e um sermão admirável foi esse! Iniciou novas idéias e abriu novas expectativas e esperanças. Quando se aproximaram da aldeia, eles o constrangeram para ficar com eles, porque era tarde, e já declinava o dia. E entrou para ficar com eles. Estando com eles à mesa, tomou o pão e, partindo-o, lhes dava. Abriram-se-lhes então os olhos; nisto ele desapareceu de diante deles.

Não antes desse momento o reconheceram, ainda que tinha anda [115] do, falado e estado à mesa com eles. Ele foi reconhecido por eles não pela face, senão no simples ato de abençoar e partir o pão na velha maneira familiar, assim assegurando a sua fé no que já tinham ouvido — que tinha ressurgido, e que os tornaria a ver.

Então os dois discípulos surpreendidos e enlevados na mesma hora levantaram-se e voltaram para Jerusalém, disseram um para o outro: “Porventura não se nos abrasava o coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos abria as Escrituras?” Chegando em Jerusalém encontraram reunidos os outros regozijando-se também, os quais diziam: “Realmente o Senhor ressurgiu, e apareceu a Simão.” Então os dois contaram o que acontecera no caminho, e como se lhes fizera conhecer no partir do pão. Provavelmente estavam quase todos lá naquela noite, casas, trabalhos, e todos os outros assuntos foram esquecidos — Maria Madalena com suas lágrimas de alegria, dizendo: Reconheci-lhe no momento que chamou o meu nome — não pude acreditar a afirmação do anjo da sua ressurreição até então; e as outras mulheres declarando a sua experiência maravilhosa da manhã, e como lhe tiveram encontrado pelo caminho. Em seguida Simão teve a sua história para contar; e então aqui haviam duas testemunhas adicionais desde Emaús. Que dia mais memorável! Não é de admirar que eles desejavam reunir-se juntos no primeiro dia de todas as semanas depois disso, para conversar sobre o assunto e trazer à lembrança todas as circunstâncias associadas com este evento estupendo da ressurreição do Senhor, e para os seus corações “abrasarem” muitas vezes.

Enquanto a pequena companhia animada e extática estava assim reunida e relatando uns para os outros as suas várias experiências, o próprio Senhor Jesus se apresentou no meio deles (Luc. 24:36-49) e disse-lhes: “Paz seja convosco.” De onde ele tinha vindo? Todas reuniões tais realizavam-se secretamente com as portas cerradas por medo dos judeus (João 20:19, 26), porém aqui estava um apare- [116] cimento repentino sem nenhuma aproximação visível; mas eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. Então ele confortou-os, disse-lhes para acalmarem os seus medos, e lhes mostrou as suas mãos e os seus pés, dizendo: “sou eu mesmo; apalpai-me e vede; porque um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho”. Não acreditando eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, perguntou-lhes Jesus: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então lhe deram um pedaço de peixe assado, o qual ele tomou e comeu diante deles. Então lhes abriu o entendimento, os seus olhos mentais, e explicou-lhes as Escrituras, mostrando da lei e dos profetas que estas coisas tinham acontecido exatamente como preditas. Entretanto, Tomé estava ausente (João 20:24); e quando os outros discípulos disseram-lhe que tinham visto o Senhor, ele não acreditou, mas disse: “Se eu não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei.”

Oito dias passaram sem novas manifestações adicionais, e tiveram tempo para pensarem calmamente e discutirem as experiências daquele dia magnífico, quando, estavam os discípulos de novo reunidos como antes, Jesus pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja convosco.” (João 20:26) Esta vez Tomé estava presente, e o Senhor dirigiu-se a ele, e disse: “Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejais incrédulo, mas crente.” Deste modo demonstrou que Ele sabia o que Tomé tinha dito, sem que lhe fosse contado, e forneceu a prova da sua ressurreição que Tomé tinha declarado  que lhe convenceria; e com alegria respondeu-lhe Tomé:  “Senhor meu, e Deus meu!”

Depois disso, ali realmente devia de ter um intervalo bastante longo antes de haver mais alguma manifestação da presença do Senhor, e os discípulos que estavam na Galiléia começaram a pensar no lar e no futuro; e lembrando-se da mensagem do Senhor pelas mulheres, e de que iria adiante deles para a Galiléia, eles [117] foram para lá. Provavelmente foi no caminho deles, que Jesus encontrou-os, como Mateus o relata, num monte. Estavam perplexos; já não sentiram a mesma familiaridade que outrora tinham para com ele; desde a sua crucificação pareceu-lhes tão grandemente mudado desta maneira que ele costumava ter — apareceu e desapareceu em tempos e lugares tão peculiares; já não pareceu-lhes como “Cristo Jesus, homem”; portanto diz Mateus: “o adoraram; mas alguns duvidaram”. Depois de umas poucas palavras com eles o Senhor “desapareceu” de diante deles, e deixou-os ficarem curiosos por saber o que em seguida aconteceria. Durante algum tempo depois da sua volta para Galiléia não aconteceu nada extraordinário, e não havia mais indicação da presença do Senhor. Certo que reuniram-se e discutiam a situação e queriam saber por que não apareceu a eles mais freqüentemente.

Enquanto esperavam, os dias e as semanas pareciam-lhes compridos. Eles tinham há muito tempo abandonado as ocupações ordinárias da vida, para seguir o Senhor de lugar em lugar, aprendendo dele e pregando a outros: “É chegado o reino dos céus.” (Mat. 10:5-7, AL; IBB) Não queriam agora voltar às velhas ocupações. Entretanto, como deveriam proceder com o trabalho do Senhor? Compreenderam a situação claramente e o suficiente para saber que já não podiam pregar como dantes que o reino está próximo; pois todo o povo sabia que o seu Mestre e Rei tinha sido crucificado, e ninguém sem ser eles mesmos sabiam da sua ressurreição. Enquanto todos os onze estavam assim perplexos e ansiosos, esperando a algo, não sabendo o que, Pedro disse: Bem, não podemos ficar inativos; voltarei ao meu trabalho anterior de pescar; e seis dos outros disseram: Faremos o mesmo: Nós também vamos contigo. (João 21:3) É provável que os demais também retornaram aos seus empregos anteriores.

Quem pode duvidar que o Senhor estivesse invisivelmente presente com eles muitas vezes enquanto iam comentando entre si, dominando e dirigindo o curso das circunstâncias, etc., para o seu [118] melhor bem? Se tivessem eles grande sucesso e viessem a ser absorvidos inteiramente pelo interesse de trabalho, logo se tornariam impróprios para o mais alto serviço; contudo se eles não tivessem sucesso nenhum, pareceria como a ação de forçá-los; portanto o Senhor adotou um plano que lhes ensinou uma lição tal como muitas vezes ensina aos seus seguidores, a saber: que os sucessos ou fracassos de seus esforços, em qualquer direção, ele pode controlar, se ele quiser.

A velha empresa de pescadores reorganizou-se: juntaram seus barcos, redes, etc., e partiram para a sua primeira pesca. Mas trabalharam a noite toda e não apanharam nenhum peixe, e começaram de desanimar-se. Pela manhã um forasteiro na praia chama a eles para saber do seu sucesso. Sucesso infeliz! Nada apanhamos, respondem. Procurai outra vez, disse o forasteiro. Agora lançai a rede à direita do barco. Não adianta, forasteiro, temos procurado nos dois lados durante toda a noite, e se houvesse peixes num lado haveriam também no outro. Entretanto, tentaremos de novo e deixaremos você ver. Assim fizeram, e apanharam uma quantidade imensa. Que estranho! Observaram alguns; mas o ligeiro e impressionável João logo entendeu a idéia correta, e disse: Irmãos, apenas o Senhor poderia fazer isto. Não lembrais a alimentação das multidões, etc? Esse tem que ser o Senhor na praia, e este é outro modo que tem escolhido para manifestar-senos. Não lembrais que foi mesmo assim quando por primeira vez o Senhor nos chamou? Então, também, tínhamos a noite toda, e nada apanhamos até que ele chamou-nos, dizendo: “Faze-te ao largo e lançai as vossas redes para a pesca.” (Luc. 5:4-11) Sim, claro que é o Senhor, ainda que, depois da sua ressurreição, não podemos reconhecê-lo pela sua aparência. Agora aparece numa variedade de formas; porém cada vez conhecemos que é ele por algumas circunstâncias peculiares como esta, trazendo à lembrança alguns incidentes marcados do nosso passado conhecimento com ele.

E enquanto eles desembarcaram notaram que Jesus tinha tanto [119] pão como peixes, e aprenderam a lição de que sob sua direção e cuidado no seu serviço não seriam abandonados para morrer de fome. (Luc. 12:29, 30) Não lhe perguntaram se era o Senhor; pois nesta ocasião como em outras, sendo iluminados os olhos do seu entendimento, lhe reconheceram, não pela vista física, senão pelo milagre. Então seguiram as instruções dessa hora deleitável, tranqüilizando Pedro da sua continuada aceitação apesar de sua negação ao Senhor, pelo qual arrependeu-se e chorou. Agora aprendeu novamente do amor do seu Mestre, e do seu privilégio continuado de pastorear as ovelhas e os cordeirinhos. Parece-nos que ouvimos o Senhor dizer: Não te é preciso voltar-te à vocação de pescador, Pedro: Eu te chamei uma vez para ser um pescador de homens, e, tendo certeza de que teu coração continuaria leal e zeloso, renovo a tua comissão como um pescador de homens.

“Estando com eles, ordenou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias.” (At. 1:4, 5) Portanto vieram a Jerusalém, como foram instruídos, e já fez quarenta dias depois da ressurreição dele, que reuniu-se com eles pela última vez e falou com eles. Nesta ocasião armaram-se de coragem para perguntar-lhe acerca do reino que lhes tinha prometido, dizendo: “Senhor, é neste tempo que restauras o reino a Israel?” Este pensamento do reino era o único predominante na mente de todo judeu. Compreenderam que Israel havia de ser líder entre as nações sob o Messias, mas não sabiam dos longos Tempos dos Gentios, e ainda não viram que a bênção principal tinha sido tirada do Israel segunda a carne (Mat. 21:43; Rom. 11:7), e que eles mesmos haviam de ser membros do novo Israel (espiritual), o sacerdócio real e nação santa, por meio de qual, como o corpo de Cristo, viria a bênção do mundo. Ainda não entenderam nenhuma destas coisas. Como poderiam? Eles não tinham ainda recebido o Espírito Santo de adoção como filhos, mas estavam ainda sob a [120] condenação; porque, embora o sacrifício de resgate tinha sido feito pelo Redentor, ainda não tinha sido formalmente apresentado em nosso favor no Santíssimo, no próprio céu. (João 7:39) Daqui o nosso Senhor não tentou fazer nenhuma resposta explicativa à pergunta deles, senão apenas disse: “A vós não vos compete saber [agora] os tempos ou as épocas, que o pai reservou à sua própria autoridade. Mas recebereis poder,* ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.” — At. 1:7, 8.

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*Este prometido poder para entender e saber os tempos ou as épocas, e todas as coisas concernentes a um testemunho próprio, aplica-se à Igreja inteira desde o princípio até o fim; e sob a orientação e poder do Espírito Santo, está provido o sustento a tempo concernente a cada lineamento do plano, afim de que possamos ser as testemunhas, ainda até a consumação desta idade. — Compare João 16:12, 13.

Então o Senhor, que estava andando com eles, quando chegaram ao Monte das Oliveiras, levantando as mãos, os abençoou; e apartou-se deles; e foi levado para cima; e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. (Luc. 24:48-52; At.1:6-15) Agora começaram a ver algo mais do plano de Deus. O Senhor que desceu do céu tinha voltado para o Pai, como lhes tinha dito antes de sua morte — tinha partido agora para uma terra longínqua, a fim de tomar posse do reino prometido e depois voltar (Luc. 19:12); e entretanto haviam de ser as suas testemunhas até os confins da terra para chamar e preparar um povo para recebê-lo quando ele vier para ser glorificado nos seus santos, e para reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Viram a sua nova missão de proclamarem a toda criatura um vindouro Rei do céu com “toda a autoridade no céu e na terra”, para ser um trabalho muito mais importante do que aquele dos anos procedentes, quando eles [121] anunciavam “Cristo Jesus, homem”, e seguiam-no, aquele que “era desprezado, e rejeitado dos homens”. O seu levantado Senhor foi mudado de fato, não somente na sua aparência pessoal — aparecendo às vezes num modo e lugar, e de novo numa distinta maneira e lugar, manifestando sua “toda autoridade” — mas também foi mudado de condição ou natureza. Já não atraiu os judeus, nem manifestou-se a eles; pois desde a sua ressurreição ninguém viu-o em nenhum sentido, exceto os seus amigos e seguidores. Suas palavras: “Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais”; foram assim autenticadas.

Assim foi estabelecida a fé dos apóstolos e da Igreja primitiva, no fato da ressurreição do Senhor. As suas dúvidas se dispersaram, e alegraram-se os seus corações; e voltaram para Jerusalém e perseveraram unanimemente em oração e súplica e estudo das Escrituras, aguardando a adoção prometida pelo Pai, e a sua adoção com entendimento espiritual, e com especiais dons milagrosos de poder, para capacitá-los a convencer aos israelitas verdadeiros, e para estabelecer a Igreja do Evangelho, no dia de Pentecostes. — At. 1:14; 2:1.

Ainda que o nosso Senhor no seu segundo advento não manifestará a sua presença da mesma maneira em que fazia durante esses quarenta dias depois da sua ressurreição, todavia temos a sua garantia de que os “irmãos” não estão “em trevas”. Antes, teremos uma ajuda que eles não tinham e não podiam ter para ajudá-los durante esses quarenta dias, a saber, “poder do alto”, para guiarnos ao entendimento de toda a verdade devida para ser entendida, e, ainda como prometido, nos anunciará as coisas vindouras. Daqui a seu tempo teremos pleno entendimento da maneira, do tempo, e das circunstâncias concomitantes do seu aparecimento, os quais, se cuidadosamente vigiados e notados, não serão menos convincentes do que as evidências da ressurreição do nosso Senhor [122] fornecidas à Igreja primitiva, ainda que de um gênero diferente.

Que o nosso Senhor no seu segundo advento poderia assumir a forma humana, e assim aparecer aos homens, tal como tem feito a seus discípulos depois da sua ressurreição, não cabe dúvida; não somente porque assim apareceu em forma humana durante esses quarenta dias, senão também porque seres espirituais tinham no passado manifestado o poder de aparecer como homens na carne e em várias formas. Mas tal manifestação estaria fora de harmonia com a tendência geral do plano de Deus, tanto como fora de harmonia com as dadas indicações bíblicas, relativas a maneira das suas manifestações, como veremos. Em lugar disso, é o plano do Senhor que o seu Reino espiritual comunicará, operará, e manifestará a sua presença e poder por meio de seres humanos, carnais terrestres. Tal como o príncipe deste mundo, Satanás, ainda que não visto pelos homens, exerce uma influência extensa no mundo por intermédio daqueles que estão sujeitos a ele, possuindo e sendo controlados pelo seu espírito, do mesmo modo o novo Príncipe da Paz, o Senhor principalmente operará e manifestará a sua presença e poder por meio de seres humanos, sujeitos a ele e possuindo e sendo controlados pelo seu espírito.

Ver com o olho natural e ouvir com o ouvido natural não é tudo que se pode ver e ouvir. “Ninguém jamais viu a Deus.” Assim, no entanto todos os filhos de Deus o têm visto e conhecido, e tido comunhão com ele. (João 1:18; 5:37; 14:7) Ouvimos o convite de Deus, a nossa “vocação celestial”, ouvimos a voz do nosso Pastor, e estamos constantemente fitando os olhos em Jesus, e vemos o prêmio, a coroa da vida que ele promete — não por vista e ouvido natural, senão pelo nosso entendimento. Muito mais preciosa é a visão que temos do nosso Senhor glorificado como ser espiritual, Rei da glória exaltado soberanamente, tanto nosso Redentor como nosso Rei, pelos iluminados olhos do nosso coração e fé, do que a visão dada ao olho natural antes de Pentecostes. [123]

Havia uma necessidade do nosso Senhor aparecer em tal maneira ante seus discípulos, depois da sua ressurreição, qual necessidade não existirá no seu segundo advento. De fato, aparecer assim no seu segundo advento seria prejudicial ao propósito que havia de efetuar-se nesse então. Seu objetivo de aparecer a seus discípulos depois da sua ressurreição foi o de convencê-los que, aquele que foi morto, está vivo pelos séculos, para que eles pudessem ir adiante como testemunhas do fato da sua ressurreição (Luc. 24:28), e para que pudesse ser o seu testemunho um firme fundamento para a fé de gerações vindouras. Desde que ninguém pode vir a Deus com aceitabilidade, para receber o espírito de adoção, sem em Cristo, tornou-se necessário não somente por causa dos discípulos naquele tempo, mas também a todos depois, que as evidências da sua ressurreição e transformação sejam tais que os homens naturais pudessem compreender e apreciar. Depois de tornarem-se participantes do Espírito Santo e entenderem coisas espirituais (Veja I Cor. 2:12-16), poderiam ter crido aos anjos diante do sepulcro, que ele tivesse ressurgido da condição de ser morto, ainda se tivessem visto o corpo carnal do Cristo Jesus, homem, todavia deitado no sepulcro; mas não antes — o corpo havia de estar ausente para fazer possível a eles a fé na sua ressurreição. Depois do Espírito Santo habilitá-los a discernir as coisas espirituais, poderiam ter crido no testemunho dos profetas que ele precisava morrer e ressurgir dentre os mortos, e que seria exaltado soberanamente como Rei da Glória, sem haver necessidade de aparecer como um homem, e assumir vários corpos de carne como também um vestuário, para que eles pudessem tocá-lo e vê-lo ascender. Porém, tudo isso foi necessário a eles e a todos os homens naturais. Crendo, nós nos aproximamos de Deus por meio dele e recebemos a remissão dos pecados e o espírito de adoção, para compreendermos as coisas espirituais.

Ainda quando estava removendo os obstáculos naturais à fé, por assumir forma humana, etc., o nosso Senhor convenceu os discípu- [124] los, e os fez testemunhas para outros, não pelo seu tato natural e visão, senão por raciocinar com eles sobre as Escrituras: “Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressurgisse dentre os mortos; e que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas.” (Luc. 24:45-48) Pedro também declara este propósito claramente, dizendo: “A este ressuscitou Deus ao terceiro dia e lhe concedeu que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas predeterminadas por Deus, a nós, que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; este nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele [o ressuscitado Jesus] é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos.” — At. 10:40-42.

Com o nosso Senhor, depois da sua ressurreição, foi simplesmente uma questão de expediente quanto ao método de aparecer a seus discípulos que efetuaria melhor o seu objetivo, o de manifestar a sua ressurreição e transformação de natureza. De aparecer em uma chama de fogo, como o anjo apareceu a Moisés do meio duma sarça ardente. (Êx.3:2), ele poderia na verdade ter conversado como eles, mas a evidência assim dada estaria longe de ser tão convincente como o método que adotou, tanto para os Apóstolos como para o mundo em geral ao qual deram testemunho.

Se ele tivesse aparecido na glória da forma espiritual, como fez o anjo a Daniel (Dan. 10:5-8), a glória teria sido maior do que as testemunhas poderiam ter suportado. Provavelmente teriam alarmado-se até o grau que seriam incapazes de receber instruções dele. A ninguém, exceto a Paulo, o Senhor nunca apareceu desta maneira; e Paulo ficou dominado por essa aparição instantânea da sua glória que caiu por terra e foi cegado pela sua luz, que  [125] excedia o esplendor do sol ao meio-dia.

No nosso exame do método de manifestação adotado pelo nosso Senhor durante esses quarenta dias, vimos que ele “permitiu” a fazer-se manifesto ainda que às escolhidas testemunhas somente umas poucas vezes, e ainda apenas brevemente. O tempo inteiro que ele manifestava-se a eles, se fosse reduzido a um dia, em vez de ser de tempo em tempo durante os quarenta dias, provavelmente teria sido menos de doze horas, ou a octogésima parte de todo esse tempo. Sendo isto verdadeiro, é evidente que ele estava presente com eles invisível quase setenta e nove a octogésima parte desse período de quarenta dias. E ainda quando lhes fazia manifestações, não eram (exceto uma vez, no caso do São Tomé) numa forma exatamente como a que tão intimamente tinham conhecido durante três anos, e que tinham visto apenas uns poucos dias antes. Nem sequer uma vez está notificado que o conhecessem pelas feições familiares do seus rosto, nem ainda que fosse reconhecido pela mesma aparência como em outras manifestações.

Maria supôs que fosse “o jardineiro”. Para os dois no caminho de Emaús foi “um peregrino”. Foi como um forasteiro para os pescadores no mar da Galiléia, e para os onze no cenáculo. Em toda ocasião foi reconhecido pelas suas ações, palavras, ou pelos tons familiares da sua voz.

Quando Tomé declarou que somente a prova que satisfaria os seus sentidos naturais da vista e o toque seria aceitável para ele, o Senhor, ainda que admitiu a sua exigência repreendeu-o levemente, dizendo: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” (João 20:27-29) A evidência mais forte foi esta que não apresentou-se à vista natural; e mais abençoados são os que estão prontos para receber a verdade por meio de quaisquer provas que Deus digne-se de confirmá-las. [126]

Assim Jesus lhes demonstrou, não somente que teve o poder de aparecer numa variedade de maneiras e formas, senão também que nem sequer um desses corpos que eles viram fosse o seu glorioso corpo espiritual ainda que os fatos da sua ressurreição e presence manifestaram-se assim a eles. As distintas formas, e os longos intervalos de presença invisível sem nenhuma manifestação aparente, evidenciou o fato que ainda que o seu Senhor e Mestre estava vivo e ainda não tinha subido ao Pai, já era um ser espiritual, realmente invisível à vista humana, porém com a habilidade de manifestar a sua presença e poder numa variedade de maneiras como aprouver.*

 A criação do corpo e da roupa em que apareceu a eles, no mesmo quarto em que estavam reunidos, foi prova inquestionável de que Cristo já não era mais um humano, ainda que assegurou aos seus discípulos de que o corpo que eles viram, e que Tomé apalpou, foi um verdadeiro corpo de carne e ossos, e não uma mera visão ou aparição.** Como ser humano não poderia entrar no quarto sem [127] abrir a porta, mas como ser espiritual podia, e lá num instante criou e assumiu tal corpo de carne e tal roupa qual achou conveniente para o propósito pretendido.

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*A ocorrência registrada por Lucas (4:30) não deve considerar-se como um caso paralelo ao seu aparecimento depois da sua ressurreição. Esse não foi um desaparecimento no sentido de tornar-se invisível ao povo. Foi apenas um ágil movimento rápido, pelo qual iludiu o desígnio mortífero dos seus inimigos. Antes de que tinham efetuado seus planos para a sua morte, ele virou-se, e, passando pelo meio deles, ninguém tinha coragem ou poder para molestá-lo, porque ainda não era chegada a sua hora.

**Que ninguém precipitadamente suponha que aqui estamos seguindo o Espiritismo, ou qualquer outro ismo. Estamos simplesmente seguindo e  logicamente conectando os preceitos apostólicos. A vasta diferença entre o ensino bíblico, isto é, a falsificação dele promulgada por Satanás, conhecida por Espiritualismo, nós distintamente discerniremos e examinaremos num volume seguinte. É suficiente aqui indicar que o Espiritismo procura a comunicação entre homens mortos e homens vivos, enquanto a Bíblia condena a isto (Is. 8:19), e ensina que tais comunicações quais foram verdadeiras têm sido feitas somente por seres espirituais, tais como anjos, e pelo nosso Senhor; e não pelo nosso Senhor enquanto foi “Cristo Jesus, homem”, nem enquanto ele estava morto, senão depois da sua ressurreição, quando tinha tornado-se “espírito vivificante”.

Nem por um momento podemos admitir a sugestão oferecida por alguns, de que o nosso Senhor abrisse as portas sem ser observado; porque o registro é bem claro que, chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles — provavelmente muito cuidadosamente estavam também barradas as portas cerradas “por medo dos judeus”. — João 20:19, 26.

A lição da sua natureza transformada foi ainda enfatizada pela sua maneira de sair da vista deles: “ele desapareceu de diante deles”. O corpo humano de carne e ossos, etc., e a sua roupa, nos quais apareceu repentinamente com as portas cerradas não saiu pela porta, senão simplesmente desaparecia ou dissolvia-se em mesmos elementos dos quais os tinha criado há uns poucos momentos. Ele desaparecia de diante deles, e já não era mais visto por eles quando a carne e os ossos e a roupa no qual tinha manifestado-se eram dissolvidos, ainda que sem dúvida continuava com eles — invisivelmente presente; e assim como consta grande parte do tempo durante esses quarenta dias.

Em ocasiões especiais, para instrução especial, Deus tem dado poder semelhante a outros seres espirituais, anjos, habilitando-lhes aparecer como homens, em corpos de carne e ossos que comeram e falaram a esses, aos quais instruíram exatamente assim como o Senhor fez. Veja Gên. 18; Juí. 6:11-22; 13:3-20; e os comentários sobre estes no Vol. I, pp. 206 a 210; ou pp. 178-180, 2.ª edição.

O poder manifestado pelo nosso Senhor, e pelos anjos que mencionados, para criar e dissolver a roupa em que apareceram, foi igualmente sobre-humano como a criação e dissolução dos seus corpos humanos assumidos; e os corpos não foram mais os seus corpos espirituais gloriosos nem foram as roupas que usaram. Deve-se lembrar que a túnica sem costura e outras vestes que nosso Redentor usava antes da sua crucificação foram repartidas [128] entre os soldados romanos, e que o lenço estava enrolado num lugar à parte no sepulcro (João 19:23, 24; 20:5-7), assim que as roupas com quais apareceu nas ocasiões mencionadas, precisavam ter sido criadas especialmente, e provavelmente foram as mais apropriadas para cada ocasião. Por exemplo, quando apareceu como um jardineiro a Maria, provavelmente estava com tal roupa qual um jardineiro usaria.

Que os corpos nos quais o nosso Senhor apareceu foram verdadeiros corpos humanos, e não meras ilusões, ele deu a eles para entenderem claramente quando comeu diante deles, e convidou-os para apalparem-no e verem que o corpo era verdadeira carne e verdadeiros ossos, dizendo: “Por que estais perturbados? ... Olhai as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpaime e vede; porque um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho.”

Alguns cristãos tiram umas conclusões muito absurdas desta expressão do nosso Senhor quanto à realidade do seu adotado corpo de carne e ossos. Eles consideram o corpo assumido como o seu corpo espiritual, e declaram que um corpo espiritual é carne e ossos, e semelhante a um corpo humano, com exceção de que alguma coisa indefinível, que eles chamam espírito, flui pelas suas veias em vez de sangue. Parecem desatender a declaração do nosso Senhor, de que este não era um corpo espiritual — porque um espírito não tem carne nem ossos. Se acaso esquecem o relato de João, de que “ainda não é manifesto” o que é um corpo espiritual, e que não saberemos até que seremos transformados e feitos “semelhantes a ele” porque assim como é o veremos? (I João 3:2) Se também esquecem a declaração explícita do apóstolo Paulo de que “carne e sangue não podem herdar o reino de Deus”? — e a sua garantia adicional de que portanto todos os herdeiros de Cristo também serão “transformados”? — I Cor. 15:50, 51.

Muitos cristãos têm a idéia que o glorioso corpo espiritual do [129] nosso Senhor é o mesmo corpo que foi crucificado e depositado no sepulcro de José; esperam, quando verem o Senhor em glória, identificá-lo pelas cicatrizes que recebeu no Calvário. Isto é um grande erro, o qual deve manifestar-se com um pouco de consideração. — Primeiro, provaria que o seu corpo ressuscitado não fosse glorioso nem perfeito, senão cicatrizado e desfigurado. Segundo, provaria que de fato soubéssemos o que é um corpo espiritual, apesar da declaração do Apóstolo ao contrário. Terceiro, provaria que o preço da nossa redenção tivesse sido retirado, pois Jesus disse: “darei pela vida do mundo ... a minha carne”. Foi a sua carne, a sua vida como um homem, a sua humanidade, a qual foi sacrificada para a nossa redenção. E quando ele foi vivificado de novo pelo poder do Pai, não foi para a existência humana; porque esta foi sacrificada como o preço de nossa compra. E se esse preço tivesse sido retirado, estaríamos ainda sob a condenação da morte, e sem esperança.

Não temos mais razão de supor, que o corpo espiritual do nosso Senhor depois da sua ressurreição seja um corpo humano, nem temos motivo para supor, que o seu corpo espiritual antes do seu primeiro advento fosse humano, ou que outros seres espirituais tenham corpos humanos; porque um espírito não tem carne nem ossos; e, diz o apóstolo Pedro, o nosso Senhor foi morto na carne, mas vivificado no espírito.

Não obstante, o corpo humano do nosso Senhor foi removido sobrenaturalmente do sepulcro; porque se tivesse ficado lá, teria sido um obstáculo insuperável à fé dos discípulos, que ainda não foram instruídos nas coisas espirituais — pois “o Espírito ainda não fora dado”. (João 7:39) Não sabemos nada a respeito do que foi feito dele, salvo que sabemos que não teve decomposição nem corrupção. (At. 2:27, 31) Quer fosse dissolvido em gases, quer ainda esteja preservado em algum lugar como o grande memorial do amor de Deus, da obediência de Cristo, e da nossa redenção, [130] ninguém sabe — nem é necessário tal conhecimento. Que Deus milagrosamente escondeu o corpo de Moisés, está nos assegurado (Deut. 34:6; Jud. 9) e que como memorial Deus milagrosamente preservou de corrupção o maná no vaso de ouro, o qual foi posto na Arca sob o Propiciatório no Tabernáculo, e que era um símbolo da carne do nosso Senhor, o pão do céu, também sabemos. (Êx. 16:20, 33; Heb. 9:4; João 6:51-58) Por isso, não nos surpreenderá, se no Reino, Deus mostrar ao mundo o corpo de carne, crucificado para dar por todos o resgate como seu representante — não permitindo a corrupção, mas preservando como perpétuo testemunho do amor infinito e da obediência perfeita. É pelo menos possível que João 19:37 e Zacarias 12:10 possam ter tal cumprimento. Aqueles que clamavam: “Seja crucificado”, talvez poderão, como testemunhas, identificar o mesmo corpo furado pela lança e rasgado pelos cravos e espinhos.

Considerar o corpo glorioso do nosso Senhor como um corpo de carne de modo algum não presta esclarecimentos a respeito dos seus aparecimentos peculiares e repentinos durante esses quarenta dias antes da sua ascensão. Como poderia ele tão repentinamente aparecer e então desaparecer? Como foi que ele ocultou-se quase constantemente invisível durante esses quarenta dias? E por que foi que a sua aparência cada vez estava tão alterada para não ser reconhecida como a mesma vista em qualquer outra ocasião anterior, nem como o que estava tão bem conhecido e amado por todos, antes da sua crucificação — apenas uns poucos dias antes? Não bastará meramente dizer que estes foram milagres, pois então algum uso ou necessidade de milagres deveria ser mencionado. Se o seu corpo depois da sua ressurreição fosse carne e ossos, e o mesmo corpo que foi crucificado, com todas as feições e cicatrizes, por que fez milagres que não somente não estabeleceram esse fato, mas também foram provavelmente como vemos, para ensinar ao contrário? — que ele mesmo já não era humano — carne e ossos — mas um ser espiritual que podia ir e vir  [131] como o vento, assim que ninguém poderia saber donde vinha e para onde ia, porém quem, para o propósito de instruí-los, apareceu como um homem em vários corpos de carne e ossos que ele criava e dissolvia segundo as ocasiões requeressem. Antes da crucificação do nosso Senhor, ele tinha relações amistosas com os seus discípulos, mas depois da sua ressurreição, ainda que o seu amor para eles não tinha diminuído, a sua maneira para com eles estava mais reservada. Sem dúvida, isto foi para impressioná-los mais forçosamente com a dignidade e honra da sua alta exaltação, e para inspirar a devida referência à sua personalidade e autoridade. Ainda que como um homem, Jesus, nunca necessitou dessa dignidade de comportamento que merece respeito, contudo, maior reserva e expediente eram necessaries depois da sua transformação em natureza divina. Tal reserve sempre tem sido mantida por Jeová para as suas criaturas, e é expediente diante das condições. Esta reserva marcava todas as conversações do nosso Senhor com os seus discípulos depois da sua ressurreição. Eram muito breves, ainda como ele tinha dito: “Já não falarei muito convosco”. — João 14:30.

Esses que crêem que o nosso Pai celestial é um espírito e não um homem, não devem de achar nenhuma dificuldade em compreender que o nosso Senhor Jesus, que já está agora enaltecido à natureza divina, e que é não somente uma semelhança moral de Deus, mas também de fato “a expressa imagem do seu Ser”, do Pai, já não é mais um homem, mas um ser espiritual, a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver sem um milagre. É realmente tão impossível os homens verem a glória desvelada do Senhor Jesus, isto é como eles olhassem para Jeová. Pensai por um momento como ainda uma reflexão da glória espiritual afetou a Moisés e Israel no Sinai. (Heb. 12:21; Êx. 19;20:19-21; 33:20-23; 34:29-35) “E tão terrível era a visão”, tão opressiva e temível, “que Moisés disse: Estou todo aterrorizado e trêmulo”. E ainda que Moisés esteve fortalecido de modo sobrenatural para olhar à glória do Senhor, assim que durante quarenta dias e quarenta noites, sozinho [132] com Deus, abrigado pela sua glória e sem comida, sem bebida, recebeu e escreveu a lei divina (Êx. 34:28); entretanto, quando desejou ver o Senhor face a face, foi lhe dito: “Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum pode ver a minha face e viver.” (Êx. 33:20) Tudo o que Moisés já viu, portanto, foi uma aparição representando a Deus, e nada mais foi possível. Isto está de acordo, também, com as declarações do Apóstolo: “Ninguém jamais viu a Deus.” Ele é o Rei imortal, invisível, a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver [jamais]. (I Tim. 6:15, 16) No entanto que os seres espirituais podem ver e vêem a Deus, que ele mesmo é um ser espiritual, está claramente declarado. — Mat. 18:10.

Se o nosso Senhor é ainda “Cristo Jesus, homem, o qual se deu a si mesmo em resgate por todos” (I Tim. 2:5, 6) — embora sendo morto na carne e fosse ressuscitado à mesma carne, e não, como o Apóstolo declara, um espírito vivificante — então em vez de ser exaltado muito acima dos anjos e de todo nome que se nomeia tanto no céu como na terra, seria ainda um homem. E se mantivesse a forma de servo, que tomou por causa da paixão da morte por todos, e fosse ainda um pouco menor do que os anjos, nunca poderia ver a Deus. Mas quão irracional é tal opinião quando plenamente examinada à luz do testemunho apostólico. Tomai em consideração, também, que se a carne do nosso Senhor, que foi furada e ferida com cravos e lança e coroa de espinhos, e marcada com tristeza, seja o seu glorioso corpo espiritual; e se as cicatrizes e desfiguradas feições humanas fossem partes ou parcelas do Senhor exaltado, estariam muito longe do caráter ou natureza do que é de belo, ainda que amássemos as feridas suportadas por causa de nós. E se ele ainda possuísse um corpo imperfeito cicatrizado e desfigurado, e se seremos semelhantes a ele, não significaria que os Apóstolos e santos que foram crucificados, decapitados, apedrejados mortalmente, queimados, cortados em pedaços dilacerados por feras, assim como aqueles que foram acidentados, possuíssem cada um do mesmo modo os seus defeitos e cicatrizes? [133] E nessa perspectiva não se apresentaria o céu um espetáculo muito horrível — por toda a eternidade? No entanto, isto não é o caso, e ninguém poderia defender por longo tempo tão desarrazoada opinião em desacordo com a Escritura. Seres espirituais são perfeitos em todo particular; e assim o Apóstolo faz lembrar à Igreja, que são herdeiros da glória e honra celestial ou espiritual: Semeia-se em ignomínia [com rugas causadas por preocupações e tristezas, etc.], é ressuscitado em glória. Semeia-se [na morte] em fraqueza [cicatrizes e feridas, etc.], [o ser] é ressuscitado em poder. Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. E assim como trouxemos a imagem do [pai] terreno, traremos a imagem do [Senhor] celestial. (I Cor. 15:42-51) O nosso Senhor Jesus por amor de nós tomou e trouxe também a imagem do terreno, por algum tempo, para nos redimir. Porém na sua ressurreição tornou a viver, para ser Senhor [celestial] (Rom.14:9), e nós, se fiéis, logo traremos a imagem do Senhor celestial (corpos espirituais), como agora todavia trazemos a imagem do senhor terreno, Adão (corpos humanos).

Lembrai o caso de Paulo — Afim de que pudesse ser um dos Apóstolos, teve que tornar-se uma testemunha — devia ver o Senhor depois da sua ressurreição. Não foi um daqueles que viram as manifestações da ressurreição e presença durante os quarenta dias, por isso foi dada a ele uma especial aparição instantânea do Senhor. Mas o viu, não como os outros o viram — não velado na carne com roupa de várias formas. E o magnífico esplendor da gloriosa pessoa desvelada do nosso Senhor causou-lhe a cair por terra, cegado por uma glória que muito “excedia o esplendor do sol” ao meio-dia: desde que ficou cego, para restaurar-lhe a visão ainda que parcialmente requeria um milagre. (At. 9:17, 18) E Paulo não viu o Senhor como é — um ser espiritual? E não foi que o nosso Senhor durante os quarenta dias aparecia como era, isto é, como tinha sido previamente, para os propósitos especiais e razões já indicados? Aqui não dá lugar a dúvida sobre isto. Mas o Senhor tinha um objetivo de aparecer assim a Paulo, exatamente como ele [134] tinha feito, e serviu um outro objetivo por aparecer de maneira distinta aos outros. Paulo demonstra este objetivo, dizendo: “e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um abortivo”. (I Cor. 15:8) Tal como a ressurreição do nosso Senhor foi o seu nascimento dentre os mortos, para plena perfeição de ser espiritual (Col. 1:18; Rom. 8:29), assim a ressurreição da Igreja, o corpo de Cristo, aqui e em outras partes refere-se assim como a um nascimento. No nosso nascimento ou ressurreição como seres espirituais, veremos ao Senhor assim como é, exatamente como Paulo o viu; mas nós, sendo transformados ou nascidos então, como seres espirituais, não seremos acometidos para baixo nem cegados pela vista da gloriosa pessoa do nosso Senhor. A declaração de Paulo significa que viu o Senhor como o veremos — “assim como é”: Paulo o viu assim como todo o corpo de Cristo (a Igreja) o verá, mas viu o Senhor antes do tempo próprio, ainda antes de nascer dentre os mortos, e portanto antes de estar apto para suportá-lo esta aparição, mas “assim como” cada um nascido desta maneira (na primeira ressurreição) no tempo próprio o verá.

Moisés, descendo do monte para comunicar a Israel o Pacto da Lei, foi um tipo do mais grande Legislador e Mediador do Novo Pacto, que no seu segundo advento vem para governar e abençoar o mundo. Portanto, Moisés tipificou a Igreja inteira, da qual o Senhor é a Cabeça. O rosto de Moisés resplandecia, assim que o povo não pôde olhar para ele, e ele pôs um véu, como tipo da glória spiritual de Cristo, uma ilustração do assunto que agora estamos examinando. Cristo tem a verdadeira glória e resplendor, sendo a expressa imagem do Ser do Pai, seremos semelhantes a ele, e nenhum homem pode olhar para essa glória; Por isso qualquer manifestação do Legislador nesse particular será para o mundo quando a glória do Senhor há de ser revelada, a glória dos seres espirituais não se pode ver. Falarão através do véu — sob a cobertura. Isto, tanto como mais, foi significado pelo véu de Moisés. — Êx. 34:30-33.  [135]

Ao passo que damos à matéria estudo cuidadoso, cada vez mais e mais chegamos a reconhecer a sabedoria divina mostrada na maneira de revelar a ressurreição do nosso Senhor aos Apóstolos, para que pudessem ser de uma parte a outra testemunhas convencidas e de confiança, e para que os mansos e humildes do mundo pudessem ser capazes de aceitar o seu testemunho e crer que Deus levantou o nosso Senhor dentre os mortos — para que pudessem reconhecer aquele que foi morto, mas agora está vivo pelos séculos dos séculos, e, crendo pudessem vir a Deus por meio dele. E assim como o consideramos sob a direção do Espírito Santo da verdade, as nossas mentes expandem-se e já não vemos a Cristo Jesus como homem, senão como o Senhor da glória e do poder, participante da natureza divina. Assim conhecemos a ele, para cuja vinda e reino a Igreja tão sinceramente tem orado e anelado. E ninguém propriamente reconhecendo o seu grande enaltecimento pode esperar na sua Segunda vinda o Cristo Jesus, homem, no corpo da carne preparado para sacrifício e ferido e dado à morte como o nosso resgate. Nem deveríamos esperar que na sua segunda vinda apareceria ou manifestar-se-ia em várias formas de carne e ossos ao mundo — o que era necessário para primitivas testemunhas, mas agora já não é necessário. Como veremos, manifestará a sua segunda presença de maneira muito distinta.

Do que temos visto com respeito a seres espirituais e suas manifestações em tempos passados, é evidente que se o nosso Senhor se manifestar no seu segundo advento, ou por abrir os olhos dos homens para verem a sua glória, assim como fez com Paulo e Daniel, ou por assumir um corpo humano, seria prejudicial ao plano revelado na sua Palavra. O efeito de aparecimento ao mundo, seus olhos sendo preparados milagrosamente para habilitálos a vê-lo, seria quase que paralisá-los com a visão irresistível, enquanto a aparição como um homem seria rebaixar os padrões de dignidade e dar uma avaliação mais baixa do que a verdadeira da [136] sua natureza divina e forma. Visto que nenhum pareceria ser necessário ou recomendável agora, não devemos presumir que qualquer destes métodos será adotado.

Ao contrário, deveríamos esperar que o Cristo fosse manifesto na carne da humanidade da mesma maneira que quando o Senhor “se fez carne” e habitou entre os homens, Deus foi manifestado na carne dele. A natureza humana, quando perfeita e em harmonia com Deus, é uma semelhança de Deus na carne; daqui o originalmente perfeito Adão foi uma semelhança de Deus, e o perfeito Cristo Jesus, homem, também o foi; assim que pôde dizer ao discípulo Filipe, qual pediu ver o Pai, “Quem me viu a mim, viu o Pai” — este tem visto a semelhança de Deus na carne: “Aquele que se manifestou em carne”.

Da mesma maneira, também, a humanidade em geral, assim como os seus membros voltam gradualmente à imagem de Deus, perdida há muito tempo, serão na carne imagens e semelhanças do Pai e do Cristo. Exatamente no começo do Milênio, como temos visto, haverão exemplos de humanidade perfeita perante o mundo (Volume I, Estudo XIV). Abraão, Isaque e Jacó, e os santos profetas, já provados e aprovados, serão os “príncipes” entre os homens, os expoentes e representantes do invisível reino espiritual. Nestes será Cristo manifestado — na carne deles — ainda assim como o Pai foi manifestado na carne dele. E ao passo que “quem quiser” chegar à perfeição e entrar em plena harmonia com a vontade de Cristo, cada tal será uma imagem de Deus e de Cristo, e em cada um destes Cristo será manifestado.

Por causa de ser criado à imagem moral de Deus, o homem perfeito, plenamente consagrado, será capaz de apreciar perpetuamente o Espírito Santo e a Palavra de Deus; e a Igreja glorificada dirigi-lo-á. Sem dúvida, também, visões e diretas revelações, e comunicações gerais entre o reino espiritual e os seus expoentes e representantes terrestres, serão muito mais livres e gerais do que comunicações similares já têm sido antes — mais [137] livres segundo a ordem das comunicações do Éden, antes de que o pecado trouxe condenação e separação do favor e comunhão de Deus.

Nada, então, tampouco em razão ou nas Escrituras Sagradas, demanda que o nosso Senhor no seu segundo advento aparecerá em vários corpos de carne e ossos. Esse tal proceder não é essencial, evidencia-se pelo sucesso do reino de Satanás, que opera através de seres humanos como agentes. Aqueles que participam do espírito do mal e erro representam o grande príncipe invisível, e em maior parte completamente. Ele é, assim manifestado na carne deles, ainda que é pessoalmente um ser espiritual, invisível aos homens.

Os membros do Cristo “transformados”, feitos participantes da natureza divina, serão seres espirituais assim como na realidade o é Satanás, e igualmente invisíveis aos homens. As suas operações serão de maneira parecida; ainda que diretamente opostas em caráter e resultados; os seus agentes honrados, não constrangidos e feitos escravos pela ignorância e fraqueza, assim como é a maior parte dos servos de Satanás, mas feitos perfeitos, e “verdadeiramente livres”, agirão inteligentemente e harmoniosamente a partir da escolha e do amor. E as suas nomeações serão prêmios da justiça.

A presença do nosso Senhor será manifestada ao mundo por exibições com “poder e grande glória”, não, no entanto, somente à vista natural, senão aos olhos do seu entendimento, enquanto abrirse-ão a uma apreciação das grandes mudanças que o novo Governador efetuará. A sua presença e justa autoridade reconhecerse-ão em ambos: os castigos e as bênçãos que fluirão para a humanidade do reino dele.

Por muito tempo tem sido geralmente crido que a desgraça e tribulação vêm como castigo pelas más ações, sobre os maus. Parecendo isto ser uma lei natural e própria, o povo em geral o tem aceitado, pensando que deveria de ser assim, ainda se isto não é assim; todavia os fatos difíceis da experiência concordam com a Bíblia, que no passado foram os piedosos que muitas vezes têm [138] padecido muitas perseguições e aflições. (2 Tim. 3:12) Porém no “dia de angústia”, o período de quarenta anos* introduzindo o reino do Messias, esta ordem começará a inverter-se. Nesse dia os poderes do mal serão derrotados; e a justiça, estabelecida por um processo gradual, rapidamente aplicará uma retribuição correspondente aos malfeitores, e bênçãos para os que tiverem feito o bem, — “tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica o mal, ... glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem” — nesse “dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras”. (Rom. 2:9, 10, 5, 6) E visto que agora existe tanto mal, a retribuição será muito forte no começo, fazendo um “tempo de tribulação, qual nunca houve, desde que existiu nação”. Assim na vingança, e tribulação, e ira sobre as nações, revelará o Senhor ao mundo o fato da mudança das dispensações, e a mudança de governadores; porque, quando os juízos do Senhor “estão na terra, os moradores do mundo aprendem justiça”. (Is. 26:5-11) Aprenderão que sob a nova ordem de coisas os fazedores da justiça hão de ser enaltecidos, e os malfeitores restringidos e punidos. Para claro testemunho profético relativo a este reino e a sua operação a favor dos humildes, os justos, ospobres, os necessitados e os oprimidos, e sua ruína de monopólios e de todo sistema da injustiça e opressão, e a igualdade geral dos afazeres, pode ler cuidadosamente os Salmos 72:1-19; 37:1-14.

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*Veja o Prefácio do Autor

O nosso Rei assim revelar-se-á gradualmente: alguns discernirão o novo Governador prontamente antes do que os outros. Mas ultimamente “todo olho o verá [horao — discernirá]”. (Apoc. 1:7) “Eis que vem com as nuvens”, e enquanto as nuvens de tribulação estão pesadas e escuras, quando os montes (reinos deste mundo) estão tremendo e caindo, e a terra (sociedade organizada) está sendo abalada, desintegrada, e derretida, alguns começarão a com- [139] preender o que agora proclamamos como já perto — que o grande dia de Jeová tem vindo; que o predito dia de indignação, e dia de tribulação e de angústia sobre as nações está começando; e que o Ungido de Jeová está tomando o seu grande poder, e começando o seu trabalho, de fazer o juízo a linha para medir, e a justiça o prumo. (Is. 28:17) “Pois é necessário que ele reine até que haja posto” abaixo todas as autoridades e leis na Terra contrárias a essas que controla no Céu.

Quando a tribulação aumentar-se-á, os homens procurarão, mas em vão, a proteção nas “cavernas” e nas grandes rochas e fortalezas da sociedade (Livre Maçonaria, Uniões Comerciais, Corporações, Trustes, e todas as sociedades mundanas e eclesiásticas), e nos montes (governos) da terra; dizendo: “Caí sobre* nós, [cobri-nos, protegei-nos] e escondei-nos da face daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da ira deles”. Apoc. 6:15-17.

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*A palavra grega epi, aqui usada, é geralmente traduzida sobre, mas tem também o significado de sobre e ao redor, e é assim traduzida muitas vezes na versão comum. O pensamento é esse de proteção, não de destruição. A opinião comum desta passagem, de que ensine que os homens maus ganhassem a fé suficiente como para rezar que os montes literais caíssem, é absurdo. O cumprimento verdadeiro já está começando: os grandes, os ricos, e também os pobres, estão procurando os montes, rochas e cavernas para abrigo do tenebroso temporal de tribulação que todos vêem estar em formação.

A idolatria do dinheiro na qual o mundo inteiro se tem enlouquecido, e a que há de ter tão proeminente lugar na tribulação, causando a ansiedade não apenas para a sua acumulação, senão também para a sua preservação, há de ser completamente arruínada, assim como indica em Isaías 2:8-21, e Ezequiel 7:17-19.

O grande dia de tribulação será reconhecido, e da sua tempestade todos buscarão a proteção, ainda que poucos reconhecerão a justice do Senhor e os seus juízos então amplamente no mundo como resultado da sua presença, o estabelecimento da sua autoridade, e a [140] execução das suas leis. No fim, entretanto, todos reconhecerão [“verão”] o Rei da Glória; e todos aqueles que então amam a justice com regozijo o obedecerão e se conformarão plenamente com suas exigências justas.

Esse será um tempo de retribuição e todos que por fraude e por força, às vezes no nome da lei e sob a sua sanção, têm injustamente tomado os direitos ou a propriedade de outros. A retribuição, como temos visto, virá do Senhor, por meio do levantamento do povo. Na sua angústia, relutantes em repartir um dólar ou um acre de terra, ou um assumido direito ou dignidade por muito tempo desfrutado e por muito tempo não disputado, mas vendo a retribuição aproximar-se, muitos buscarão a cobertura das até agora poderosas organizações — civis, sociais, e eclesiásticas — para promover e proteger os seus interesses, sentindo que sozinhos serão obrigados a caírem. Porém, estas não poderão livrá-los no dia da ira do Senhor. O aproximado conflito e retribuição causarão lamentação a todas as famílias da Terra; pois será um tempo de tribulação qual nunca houve, desde que existiu nação — nem jamais haverá de novo. Será “sobre ele” que se lamentarão; por causa dos seus juízos produzindo numa maneira natural a grande tribulação; porque o Senhor se levanta para assombrar a terra, e para destruir as suas corrupções. (Is. 2:21) Os juízos e a tribulação serão tão profundos e atingíveis que ninguém escapará. Ultimamente todo olho discernirá a mudança, e reconhecerá que o Senhor reina. A tribulação poderia ser muito reduzida, se os homens pudessem ver e prontamente fazer segundo os princípios da eqüidade, ignorando e abandonando todos os privilégios injustos do passado, ainda que legalizados. No entanto, o egoísmo não permitirá a isto, até a tribulação arruinar e derrotar os orgulhosos, humilhar os poderosos, e enaltecer os humildes.

Entretanto, não antes que o grande dia de tribulação esteja quase terminando — não antes que os reinos gentios sejam reduzidos a pó e completamente removidos, e não se possa achar nenhum vestígio [141] deles (1915 d. C.; como mostrado no capítulo anterior) — não antes que a grande Babilônia esteja completamente derrotada e a sua influência sobre o mundo seja quebrada — poderá a grande massa da humanidade dar-se conta do verdadeiro estado de coisas. Então verão que a grande tribulação pela qual terão passado, foi essa simbolicamente chamada “a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso” (Apoc. 16:14); que na proporção que tinham ajudado o erro e a injustiça, tinham estado lutando contra a lei e as forças do novo domínio e do novo Governador da Terra; e que na proporção que as suas línguas, e penas, e mãos, e influência, e recursos, foram usados para apoiar a justiça e a verdade em qualquer circunstância, eles tinham estado de tal maneira lutando no partido do Senhor.

Alguns aprenderão o significado da tribulação mais rapidamente do que os outros, porque tornaram-se mais disciplináveis. E durante toda a tribulação estarão no mundo aqueles que darão testemunho da causa dela, declarando a presença do Senhor e o estabelecimento do seu reino — que está em oposição aos poderes da escuridão — a verdadeira causa da tribulação e agitação e transtorno da sociedade, mostrando que todos aqueles que se opõem à verdade e justiça são os inimigos do novo reino, a não ser que rapidamente rendam-se, terão que sofrer derrota ignominiosa. No entanto as massas estarão descuidadas de conselho sábio, como sempre têm estado, até que serão completamente humilhadas sob o regime de ferro do novo reino, apenas finalmente entenderão a loucura do seu proceder.

O professor verdadeiro e portador de luz (Mat. 5:14), a Igreja verdadeira, o corpo de Cristo, não há de ser deixado na escuridão para aprender da presença do seu Senhor pelas manifestações da ira e do poder dele, tal como o mundo aprenderá dela. Para a sua iluminação tem sido feita provisão especial. Pela mais firme palavra profética que alumia em lugar escuro, a Igreja é claramente e definitivamente informada exatamente sobre o que deve [142 ] esperar. (2 Ped. 1:19) Por meio da palavra profética, esta não apenas estará protegida do desânimo e habilitada para vencer as ciladas, armadilhas e pedras de tropeço tão prevalecentes no “dia mau”, e assim estar aprovada por Deus, mas também se tornará portadora de luz e instrutora do mundo. A Igreja está assim habilitada para indicar ao mundo a causa da tribulação, anunciar a presença do novo Regente, declarar o novo programa de ação, plano e objetivo da nova dispensação, e para instruir o mundo conforme o curso ciente que há de seguir em vista destas coisas. E ainda que os homens não prestarão atenção à instrução até que a lição da submissão haja sido forçada sobre eles pela tribulação, muito ajudá-los-á aprender a lição. Será isto a missão dos “pés”, ou dos últimos membros da Igreja, que anunciarão e proclamarão sobre os montes (reinos) o reino de Cristo começado, ao qual Isaías 52:7 faz alusão.

Escrituras que Parecem ser Contraditórias

Algumas declarações das Escrituras com referência à maneira da volta e aparecimento do Senhor que, até examinadas criticamente, parecem ser mutuamente contraditórias. Sem dúvida, durante séculos tinham servido ao propósito divino de esconder a verdade até o devido tempo, em que deviam ser entendidas; e ainda então, estariam escondidas de todos exceto a uma classe especial de consagrados para os quais foram programadas.

Por exemplo, o nosso Senhor disse: “Eis que venho como ladrão.” “Como aconteceu nos dias de Noé, assim também sera nos dias do Filho do homem [nos dias da sua presença]. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento”, “e não o perceberam, até que veio o dilúvio”. “Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior” [“com visível [143] aparência” — SBB; “visivelmente” — HG]. Apoc. 16:15; Luc. 17:26, 27, 20; Mat. 24:38, 39.

Estas Escrituras claramente declaram e ilustram a maneira da vinda do Senhor. Mostram que estará presente e invisível, fazendo uma obra da qual o mundo durante certo tempo ficará inteiramente desapercebido. Portanto a sua chegada deve ser numa maneira calma, não observada, e totalmente não reconhecida pelo mundo; exatamente “como ladrão” viria, sem ruído ou outra demonstração para atrair atenção. Assim como nos dias de Noé o mundo continuou com os seus afazeres como de praxe, de maneira alguma desconcertado, e sem nenhuma fé na pregação de Noé com referência ao dilúvio vindouro, assim na primitiva parte do dia do Senhor, o mundo — não tendo nenhuma fé no anúncio da sua presença nem da tribulação que está por acontecer — procederá como de praxe, não prestando nenhuma atenção a tal pregação até que, no grande dilúvio de tribulação, o velho mundo — a velha ordem de coisas — cai, passa, em preparação para o pleno estabelecimento da nova ordem, o Reino de Deus debaixo de todos os céus — “Como aconteceu nos dias de Noé, assim também sera nos dias [da presença] do Filho do homem.”

Por outro lado, achamos Escrituras que à primeira vista parecem estar em conflito direto com estas; como, por exemplo: “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus”. — “... quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder em chama de fogo, e tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus”. — Os povos [do mundo] “verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. — “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá”. — I Tess. 4:16; 2 Tess. 1:7, 8; Mat. 24:30; Apoc. 1:7.

Como aos que procuram obter a verdade, não nos bastará dizermos, em vista destas passagens, que a maioria delas parecem favorecer a qualquer perspectiva que inclinamos a preferir, e então [144] ignoramos as outras. Até que tenhamos uma visão da matéria na qual toda declaração da Bíblia encontre uma representação razoável, não devemos nos sentirmos certos de que tenhamos a verdade no tema. Uma declaração de Deus é tão verdadeira, e tão firme fundação para a fé, como cem declarações. Seria melhor procurar um entendimento harmonioso, do que chegar a uma conclusão ou adotar uma teoria baseada numa interpretação unilateral, e assim enganar a nós mesmos e a outros.

Os cristãos geralmente não fazem nenhum esforço para harmonizar estas declarações, e portanto as suas idéias são de um lado só e incorretas. O último grupo de declarações é exatamente tão positivo como o primeiro, e aparentemente ensina ao contrário de uma maneira quieta, inobservada, como ladrão na vinda e presença do Senhor. Em adição a estas declarações, nós nos dirigimos a duas outras ilustrações da maneira da sua vinda, a saber: “Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.” “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim sera também a vinda do Filho do homem.” (At. 1:11; Mat. 24:27) Para chegar a uma conclusão correta, a estas ilustrações também é preciso dar a devida importância.

Na nossa pesquisa do tema devemos notar o que enquanto o nosso Senhor declarou, como fato positivo, que o seu reino estabelecer-se-ia sem aparência exterior, e que a sua vinda, a sua presença, seria como um ladrão, exigindo cuidadosa e atenta vigília para compreender e discerni-la; todos os textos acima geralmente citados como prova duma aparência exterior, uma visível manifestação aparente, estão em linguagem altamente figurativa, salvo o único que diz que há de vir assim como (da maneira em que) se foi. Os simbolismos devem sempre ser submetidos à interpretação mais clara, e literal da declaração, tão logo como o seu caráter do símbolo seja reconhecido. Sempre que uma interpretação literal contrariaria a razão, e também poria a passagem em [145] antagonismo direto a declarações claras das Escrituras, tal passagem deve ser considerada figurativa, e a sua interpretação como um símbolo deve-se procurar obter em harmonia com passagens obviamente claras e literais, e com o objetivo e caráter geral do plano revelado. Por reconhecer e assim interpretar os símbolos neste caso, manifesta-se a formosa harmonia de todas as declarações. Agora as examinemos e vejamos quão perfeitamente concordam com as declarações que não são simbólicas.

“Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus”. (I Tess. 4:16) A voz e a trombeta aqui mencionadas correspondem em todo modo com as mesmas figuras usadas no Apoc. 11:15-19 — “E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. ... Iraram-se, na verdade, as nações; então veio a tua ira, e o tempo de serem julgados os mortos”, etc. Os mesmos eventos são aludidos na profecia de Daniel: — “Naquele tempo se levantará [assumirá o controle] Miguel [Cristo], o grande príncipe, ... e haverá um tempo de tribulação, qual nunca houve, desde que existiu nação ... E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão”, ... e Paulo inclui à sua menção das vozes e da trombeta a declaração, “e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”. Em 2 Tim. 4:1 mais além relata que Cristo Jesus, há de julgar os vivos e os mortos, neste tempo da sua vinda e do seu reino; O começo deste julgamento das nações vivas é descrito em toda parte como o mais grande tempo de tribulação qual o mundo nunca conheceu. — Dan. 12:1.

Assim Paulo, João e Daniel aparentemente fazem alusão ao mesmo tempo, o tempo do aparecimento do nosso Senhor, e o estabelecimento do seu reino no meio de um grande tempo de tribulação, e aos eventos precedentes e introdutório dele. O mesmo [146] resultado está mostrado por cada escritor para seguir o levantamento de Miguel, as vozes e a trombeta: a saber, tribulação e ira sobre as nações e a ressurreição dos mortos. Em seguida, note a figura usada:

“COM GRANDE BRADO”. — A palavra grega aqui traduzida” brado” é keleusma, que significa um brado de encorajamento. Um brado implica uma mensagem pública designada para os ouvidos, não duns poucos, senão de uma multidão confusa. Está geralmente destinada uma a outra para alarmar e apavorar ou para assistir e encorajar. Ou pode ter um efeito sobre uma classe e o efeito reverso sobre outra, de acordo com as circunstâncias e condições.

O aspecto dos afazeres no mundo durante os passados quinze anos muito surpreendentemente corresponde com este símbolo, em irrupções de encorajamento pelo mundo inteiro para todos os homens despertaram-se a um sentido dos seus direitos e privilégios como homens, e considerarem suas mútuas afinidades, os princípios nas quais são fundadas, e os fins que devem realizar. Onde sobre a face da Terra está a nação civilizada que não tenha ouvido o brado, e que não seja influenciada pelo mesmo! Nos últimos poucos anos o mundo inteiro civilizado tem estado estudando a economia política, os direitos civis, e as liberdades sociais como nunca antes nos anais da história; e os homens estão animando-se mutuamente e sendo encorajados, como nunca antes, para sondar estes objetivos para a verdadeira fundação. O brado de encorajamento começado pelos progressos da ciência entre os homens já tem rodeado a Terra, e sob a sua influência os homens estão unindo-se, encorajados e apoiados por homens de intelecto e gênio, para conter e lutar por ambos: os verdadeiros e imaginários direitos e liberdades; e enquanto as suas organizações aumentam-se e multiplicam-se, o brado aumenta e está tornando-se cada vez mais ameaçador e extenso, e por fim resultará como predito, em um grande tempo de tribulação e tumulto das nações iradas. Este resul [147] tado está graficamente descrito pelo Profeta. — “Eis um tumult sobre os montes [reinos], como o de grande multidão! Eis um tumulto de reinos, de nações congregadas! O Senhor dos exércitos passa em revista o exército para a guerra.” — Is. 13:4.

“À VOZ DO ARCANJO” — é outro símbolo notável de similar importância. O nome “arcanjo” significa mensageiro principal; e o nosso ungido Senhor ele mesmo é o Principal Mensageiro de Jeová — o “anjo do pacto”. (Mal. 3:1) Daniel refere-se ao mesmo personagem, chamando-o Miguel, cujo nome significa aquele como Deus — um nome apropriado para ele que é “a expressa imagem do seu Ser”, do Pai, e o representante do seu poder e autoridade. A voz do Arcanjo representa a autoridade e o commando de Cristo. Então este símbolo representa a Cristo como tomando o controle, ou começando o seu reino e emitindo os seus comandos, as suas ordens oficiais, anunciando a mudança de dispensação pela execução das leis do seu reino.

O mesmo pensamento é expressado diferentemente por Daniel, quando diz: Naquele tempo Miguel, o grande Príncipe, “se levantará”. Levantar-se significa assumir a autoridade, dar ordens. Veja “quando ele se levantar”, Is. 2:19, 21. Outra ilustração deste símbolo vem de Davi, que diz profeticamente de Cristo, “ele levanta a sua voz, e a terra se derrete”. O grande tempo de tribulação será precipitado, e a terra (sociedade organizada) derreter-se-á, ou desintegrar-se-á, sob a mudança de administração realizando-se quando o novo Rei levanta a sua voz de comando. Debaixo de sua ordem, os sistemas de erro — civis, sociais e religiosos — têm que cair, seja como for, antigos ou firmemente instituídos e fortificados. A espada da sua boca causará a destruição: A verdade em todo tema, e em todos os seus vários aspectos, julgará os homens, e, sob o seu poder e domínio causará o transtorno do mau e erro em todas as suas mil formas.

“A TROMBETA DE DEUS”. — Muitos parecem irrefletidamente admitir a idéia de que esta trombeta haja de ser um som literal no [148] ar. No entanto, isto parece ser uma expectação irracional, quando se nota que Paulo aqui refere-se ao que o Revelador designa por “Sétima Trombeta”, a Última Trombeta numa série de trombetas simbólicas. (Apoc. 11:15; I Cor. 15:52) A prova de que estas referências são para a mesma trombeta encontra-se no registro dos eventos ligados com cada uma. Paulo menciona a ressurreição, e o estabelecimento do Reino do Senhor, como relacionamento com a “trombeta de Deus”, e o Revelador menciona a mesma ainda com mais exatidão. A adequação da chamada “sétima”, ou “última trombeta”, a “trombeta de Deus”, é evidente, também, quando recordamos que os eventos mencionados sob as precedentes seis trombetas do Apocalipse referem-se às ações da humanidade, enquanto a sétima refere-se especialmente à obra de Deus, e abrange o “dia do Senhor”. Desde que as seis trombetas precedentes foram símbolos — e isto é geralmente admitido por comentadores e estudantes que fazem qualquer pretensão de serem expositores do Apocalipse — seria uma violação da razão e do bom senso esperar a sétima trombeta, a última da série, ser um audível som literal no ar. E não somente assim, mas também seria fora da harmonia com os métodos gerais do Senhor, assim como com essas declarações das Escrituras indicando o segredo da sua vinda; pois um ladrão nunca faz soar uma trombeta para anunciar a sua vinda.

As sete trombetas do Apocalipse são todas simbólicas, e representam sete grandes períodos de tempos e os seus eventos. A pesquisa destes deixamos para um volume subseqüente. É suficiente aqui dizer que nós nos encontramos hoje no meio dos eventos que marcam o soar da sétima trombeta. As grandes vozes, os progressos da ciência, as nações iradas, etc., tomados em conexão com as profecias do tempo, estabelecem isto como um fato. Muitos eventos ainda estão para realizarem-se antes de que esta sétima ou última trombeta cesse de soar; como, por exemplo, dar recompensa aos santos e profetas, e a ressurreição de todos os [149] mortos, etc. De fato, abrange o período inteiro do reino Milenário de Cristo, como indicado pelos eventos que hão de cumprir-se sob o mesmo. — Apoc. 10:7; 11:15, 18.

Assim achamos o “brado”, a “voz do Arcanjo” e, “a trombeta de Deus” todos são simbólicos, e agora estão em processo de cumprimento. Note cuidadosamente, também, o fato de que cada uma das três profecias agora mesmo referidas. (Dan. 12:1; Apoc. 11:15; I Tess. 4:16) declara a presença do Senhor no tempo em que os eventos mencionados realizam-se. Foram preditos para o exato propósito de indicar a maneira em que a sua presence invisível seria manifestada para aqueles que têm fé na palavra da profecia. Paulo diz: “o Senhor mesmo descerá ... com [literalmente em, ou durante] grande brado”, voz, trombeta, etc. João diz que os reinos do mundo passam a ser dele durante o tempo destes eventos; e Daniel diz: “Naquele tempo se levantará [estará presente] Miguel, o grande Príncipe” [Cristo] e assumirá o seu grande poder. Se, portanto, podemos reconhecer o brado, as vozes e o soar da grande trombeta, devemos aceitá-los como indicações, não de que o nosso Senhor virá brevemente, mas antes, que já veio e agora está presente, e que o trabalho da ceifa, a colheita do trigo e a queima do joio, já está em marcha. Isto, logo veremos, comprovar-se abundantemente pelas profecias de tempo. No entanto, não é para a visão natural, mas apenas para o olho da fé, por meio da firme palavra profética, que a sua presença e obra podem ser discernidas.

Aqui não deve negligenciar-se outro fato, a saber, que o “Brado”, a “Voz do Arcanjo”, e a “Trombeta de Deus”, como acima explicado, são todos instrumentos para o cumprimento da obra da ceifa da Idade Evangélica. Portanto, vendo não somente o significado destes símbolos, mas também os preditos resultados atualmente realizando-se, temos provas adicionais tanto que temos corretamente interpretado os símbolos, e que agora estamos neste período chamado a “ceifa”, em que a Idade Evangélica e a Idade [150] Milenária sobrepõem-se — uma terminando-se e a outra começando. Muitos não precisarão de nenhuma ajuda em traçar um trabalho de separação agora realizando-se entre os verdadeiramente consagrados e os cristãos meramente nominais. Muitos podem ver o fogo simbólico já em marcha, e podem discernir o “brado” do povo, o comando do novo Rei Emanuel e os eventos chamados a “sétima trombeta” e as “nuvens” de tribulação, nas quais o Senhor vem, e das quais e pelas quais o seu poder há de manifestar-se — sujeitando a si todas as coisas.

Já temos chamado atenção (Vol. I, p. 273; ou p. 237, 2.ª edição) ao fato de que o reconhecimento do trabalho da ceifa atualmente em progresso é prova da presença do Senhor, desde que declarou que ele seria o líder ceifeiro e diretor da obra inteira, e que este seria o seu primeiro trabalho — “eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, que tinha sobre a cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada. ... Então aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a foice à terra, e a terra foi ceifada”. — “Por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai”, etc. (Apoc. 14:14, 16; Mat. 13:30) O trabalho da ceifa ocupará quarenta anos para seu pleno cumprimento, terminando em 1914 d. C.* Os seus vários lineamentos cumprir-seão gradualmente, mas todos os seus dias são “dias do Filho do homem” — dias da presença e do poder do nosso Senhor — os quais finalmente serão reconhecidos, mas no princípio unicamente pela classe especificada pelo Apóstolo — “vós, irmãos, não estais em trevas”.

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*Nota dos tradutores: Veja o Prefácio do Autor, páginas IV, V.

“EM CHAMA DE FOGO.” — O seguinte destas declarações simbólicas pode ser entendido facilmente, se temos em mente o significado dos símbolos, fogo, etc., já explicados (Vol. I, p. 365; ou p. 317, 2.ª edição). O texto diz: “quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos de seu poder em chama de fogo, e tomar [151] vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus”. — 2 Tess. 1:7, 8.

Expressando literalmente, entendemos que isto significa que no seu dia (a Idade Milenária) a presença do nosso Senhor revelar-seá ou manifestar-se-á ao mundo desde a sua posição de controle espiritual (“céu”), na ira e punição fazendo visitas sobre o mal e os malfeitores. Será ira abrasadora, como indicada pelos símbolos, fogo, e não lhes deixará nem raiz nem ramo dos sistemas maus, erro, opressão, ou pecadores voluntariosos; e todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como restolho abrasados nesse dia Milenário. No seu começo — neste período de “ceifa” — este fogo queimará muito ferozmente, consumindo o orgulho e o mal, agora de tão viçoso crescimento. Felizes aqueles que abandonam o seu orgulho e maldade para serem destruídos, para que eles mesmos não sejam destruídos também (na “segunda morte”), como evidentemente haverá alguns que resistirão durante a Idade Milenária. É deste tempo que lemos: “Pois eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como restolho; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo.” — Mal. 4:1.

Os “anjos do seu poder”, mensageiros, ou agentes do seu poder, são vários, e podem propriamente entender-se como aplicáveis e inclusivos a todas as várias agências, animadas e inanimadas, que serão usadas pelo nosso Senhor na derrota dos sistemas maus do presente, e no castigo dos malfeitores.

Enquanto a ira ou vingança do Senhor há de manifestar-se assim em chama de fogo, em tribulação consumidora, tal como nunca antes foi conhecida — tão geral e muito difundida, e tão destruidora da maldade — a justiça e os justos começarão a ser favorecidos. E ao passo que estes procedimentos tornarem-se cada vez mais evidentes, os homens começarão de atrair a inferência que um novo poder tenha tomado o controle dos afazeres humanos; e [152] assim a presença do nosso Senhor como o Rei dos reis sera revelada ao mundo. Ele manifestar-se-á “em chama de fogo, e tomará vingança [tanto] sobre os que não conhecem a Deus [que não estão realmente familiarizados com Deus, mas deixaram de obedecer a luz de consciência, que todos até certo grau], como [também sobre aqueles que, enquanto conhecem a Deus, todavia] não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus”.

Sob os castigos e aumentada luz e oportunidades favoráveis do Dia Milenário, todos serão trazidos a tão claro conhecimento da verdade e do caminho da justiça assim como para serem sem a desculpa de ignorância, ou de incapacidade de obedecer à verdade. E aqueles que persistentemente continuarem inimigos de Deus e da justiça sofrerão, como castigo a perdição eterna (uma destruição da qual não haverá ressurreição) banidos da face [presença] do Senhor e da glória do seu poder.

“COM PODER E GRANDE GLÓRIA”. A contígua afirmação é com o sentido que o mundo verá o Filho do homem vir, antes que o seu reino seja plenamente estabelecido ou os seus co-herdeiros sejam todos recolhidos e enaltecidos com ele. E, vendo a sua vinda, todas as tribos da terra se lamentarão — “verão vir o Filho do homem ... com poder e grande glória.

O mundo já vê as nuvens da tribulação formando-se e escurecendo. Compreendem que um poder já está penetrando nos afazeres dos homens, com o qual não podem competir; o próximo futuro, desde a perspectiva presente, está sombrio e ominoso para todos que têm a inteligência suficiente para notar o curso dos acontecimentos. Homens pensativos observam a persistência com que questões do bem e mal, da justiça e injustiça, estão forçadas na sua consideração, exigindo uma expressão dos seus princípios individuais. Muitos reconhecem a glória e poder do novo Soberano da Terra, no entanto desde que as nuvens e a escuridão estão ao redor dele, não reconhecem a ele mesmo o Rei. Os povos vêem as nuvens, e portanto vêem ele vindo nas nuvens com poder [153] e grande glória [a glória de poder e justiça], porém não reconhecem a ele. Não até que as nuvens deixem cair saraiva e brasas de fogo (Sal. 18:12, 13) para abater o orgulho dos povos, o egoísmo, os preconceitos, e consumir estes, desaparecerão as nuvens, e virá à luz a plena majestade e glória da presença de Cristo. Se os homens considerariam, e escutariam à voz do Senhor, que agora dirige o curso da justiça, e adverte da retribuição que está por acontecer, evitar-se-iam os grandes desastres do próximo futuro. Pois “Deus fala de um modo, ainda de outro se o homem não lhe atende. ... então abre os ouvidos dos homens [aos tons do trovão do “dia de tribulação”], e os atemoriza com avisos, para apertar o homem do seu [próprio] desígnio, e esconder do homem a soberba”.

“Eis que vem com as nuvens”, e no devido tempo “todo olho o verá [discernirá], reconhecerá a sua presença, o seu poder e autoridade; E todos terão de submeter-se a ele, quer dispostos, ou com relutância, até a soltura de Satanás por um pouco de tempo, no fim do Milênio, quando depois da experiência plena será provada plenamente a sua boa vontade ou má vontade, os relutantes serão destruídos — na segunda morte, simbolicamente chamada o lago de fogo. — Apoc. 21:8.

Assim vistas, todas estas explicações simbólicas da maneira da vinda do nosso Senhor concordam perfeitamente com as afirmações claras que declaram que a sua presença será secreta por algum tempo, conhecida apenas por esses que estão vigiando.

Assim Como

O que, agora, está ensinado pela declaração do anjo no tempo da partida do nosso Senhor — At. 1:11 — “Esse Jesus, que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.”

Um exame cuidadoso deste texto manifestará a sua harmonia com o precedente. Muitos parecem opinar que a passagem diga: Como [154] vistes o Senhor elevar-se para o céu, assim da mesma maneira vereis ele vir de novo. Tais devem de lê-lo muitas vezes, até que notem o fato de que não diz que aqueles que o viram ir hajam de vê-lo vir, nem que qualquer outro vá vê-lo vir. O que diz é que a maneira da sua vinda será assim como a maneira da sua partida. Qual, então, foi a maneira da sua partida? Foi com grande esplendor, e com grande demonstração? Foi com som de trombeta e vozes e um grande brado rasgando o ar, e a pessoa do Senhor brilhando em glória sobrenatural e esplendor? Neste caso, deveríamos de esperar a sua volta realizar-se “assim como” (da mesma maneira). Por outro lado, se a partida não foi tão quietamente e secretamente como era possível, consistente com o seu propósito de ter testemunhas inteiramente convencidas do fato? Ninguém o viu nem soube do fato, exceto os seus fiéis seguidores. A sua declaração (João 14:19) : “Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais”, até agora nunca foi refutada. Pois ninguém, mas os irmãos viram ainda as suas manifestações depois da sua ressurreição, e os outros não testemunharam a sua ascensão. E assim como se foi (quietamente, secretamente, tanto quanto toca ao mundo, não é conhecido a ninguém, exceto aos seus seguidores), assim, desta maneira, vem de novo. E como quando ele partia, levantou as suas mãos e os abençoou, assim, quando vem de novo, é para que o gozo deles seja completo, como disse: “virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo”; “eu vos tornarei a ver, e alegrarse- á o vosso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará”. — Luc. 24:50, 51; João 14:3; 16:22.

O anjo pareceu também dar ênfase especial ao fato que a segunda vinda seria a vinda deste mesmo Jesus — o mesmo que deixou aquela glória que tinha junto ao Pai antes que o mundo existisse, e se fez homem — se fez pobre, para que pela sua pobreza fôssemos enriquecidos; o mesmo Jesus que morreu no Calvário; o mesmo Jesus que levantou-se espírito vivificante no terceiro dia; o mesmo Jesus que tinha manifestado a sua transformação durante os qua [155] renta dias — este mesmo Jesus agora subiu ao alto. Sim, é o mesmo Jesus quem tem experimentado duas transformações de natureza — primeiro desde a espiritual à humana, e então desde a humana à divina. Estas mudanças de natureza não têm destruído a sua individualidade. A sua identidade foi preservada, como o anjo assim nos assegura, se a filosofia desse fato está entendida ou não. E ainda que não o conhecemos mais segundo a carne (como homem), no entanto devemos lembrar o seu enaltecimento, que agora tem a natureza divina, espiritual, e devemos antecipar a sua vinda em harmonia com esta transformação e exaltação. Contudo podemos recordar que ele é o mesmo amoroso Jesus, e não mudado neste respeito. É “esse Jesus”, quem, embora presente durante quarenta dias depois da sua ressurreição, foi visto apenas pelos discípulos, mas brevemente, quem na sua segunda presence será tão invisível ao mundo como durante os quarenta dias antes da sua ascensão. Precisamos lembrar que ele não vem para dar a si mesmo como um sacrifício, e ele não precisa mais usar um corpo humano preparado para sacrifício. (Heb. 10:5) Isto já está completamente passado: ele já não morre mais, mas agora vem para governar, abençoar e levantar a raça remida.

O nosso Senhor forneceu-nos uma ilustração belíssima da maneira em que a sua presença será revelada, quando disse: “Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda [presença] do Filho do homem.” (Mat. 24:27) É evidente que a maioria das traduces deste versículo são errôneas em usar a palavra relâmpago, onde significa luz solar; porque os relâmpagos não vêm do oriente nem brilham até o ocidente. Tão freqüentemente vêm desde outras partes, e raras vezes, se alguma vez, lampejam através do céu inteiro. A ilustração dada pelo Senhor, e a única que comportar-seá com as suas palavras, é a luz do sol, que de fato invariavelmente sai do oriente e resplandece ainda até o ocidente. A palavra grega astrape, aqui usada assim, demonstra-se ser traduzida impropria [156] mente neste texto, e também no relato das mesmas palavras por Lucas (17:24). Outro exemplo do uso desta palavra astrape pelo nosso Senhor acha-se em Lucas 11:36, onde aplica-se ao brilho de uma candeia, e na versão comum está traduzida “resplendor”. Incorretas idéias da maneira da vinda e revelação do nosso Senhor, firmemente fixadas nas mentes dos tradutores, os conduziram para este erro de traduzir a palavra astrape pela palavra “relâmpago”. Eles supuseram que ele seria revelado repentinamente, como um relâmpago, e não gradualmente, como a luz solar da aurora. Mas que bela é a figura do levantar do sol, como ilustrando gradualmente a aurora da verdade e bênção no dia da sua presença. O Senhor associa os vencedores com ele mesmo nesta figura, dizendo: “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu Pai.” E o profeta, usando a mesma figura, diz: “nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas”. A aurora é gradual, mas finalmente a luz clara e plena banirá completamente a escuridão do mal, ignorância, superstição, e pecado.

Uma tradução imperfeita da palavra parousia tem tendido mais além a obscurecer o sentido desta passagem. Na tradução em ingles Emphatic Diaglott e também na do Professor Young está traduzida presence (presença); em Rotherham é arrival (chegada); enquanto na versão comum está traduzida coming (vinda). E ainda que o texto da Versão Revisada em inglês conserva esta última tradução — coming (vinda) — no entanto na margem reconhece a “presence” (presença) ser a definição verdadeira da palavra grega. A palavra grega parousia invariavelmente significa presence pessoal, como ter vindo, ter chegado. E nunca deveria entender-se como significando estar no caminho, assim como em português a palavra vinda é geralmente usada. O texto sob consideração portanto ensina que enquanto a luz solar gradualmente amanhece, assim há de manifestar-se ou revelar-se a presença do Filho do homem.

Junto com esta ilustração, o nosso Senhor uniu palavras de caute [157] la para prevenir-nos contra certos erros que seriam promovidos sobre o tempo do seu segundo advento, calculados para desencaminhar a sua Igreja. “Eis que de antemão vo-lo tenho dito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais; ou: Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis. Porque assim como o resplendor [do sol] sai do oriente e [gradualmente] se mostra até o ocidente, assim será também a presença do Filho do homem.” Deste modo o nosso Senhor nos previne contra dois erros que crescem rapidamente nos nossos dias. Um é a alegação de que o nosso Senhor viria na carne, no deserto de Palestina; e, crendo assim, muitos têm ido para lá, e estão esperando ver a Jesus na carne, com as feridas, como quando foi crucificado. Esperando-o assim como foi, e não “assim como é”, seriamente erram, e cegamse a si mesmos à verdade, como o fizeram os judeus no primeiro advento. Estas expectativas falsas conduzem a esta classe interpretar literalmente a declaração do profeta (Zac. 14:4): “Naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras”, etc.* Cegados por expectativas falsas, não vêem que os “pés” nesta passagem são figurativos, tão verdadeiramente como no Sal. 91:12; Is. 52:7; Sal. 8:6; 110:1; Ef. 6:15; Deut. 33:3; e em muitas outras passagens. Se eles soubessem o que devem esperar, saberiam não irem para Jerusalém buscar o Cristo Jesus, homem; pois o altamente exaltado Rei vem como a luz do sol, fazendo sentir a sua presença e influência por todo o mundo. Portanto, “não saiais”.

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*Deixamos o exame desta profecia para outra ocasião.

“Portanto, se vos disserem ... Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis.” O espiritismo, sempre pronto para enganar por contrafações, e sempre pronto para usar verdades avançadas como roupa de luz (2 Cor. 11:13, 14), não tem hesitado de alegar que estamos num período de mudança dispensacional, a aurora duma idade gloriosa. Entre outras coisas tais, alguns ainda ensinam que Cristo está presente, e, não duvidamos que em breve darão sessões [158] nas quais eles pretenderão mostrá-lo no interior da casa. Por apresentar-se o erro desta forma, ou de qualquer outra, deixa-nos lembrarmos as palavras do nosso Senhor e repudiarmos todas alegações semelhantes como falsas, sabendo que não será desta maneira que revelará a sua presença, mas “como a luz solar” emergindo gradualmente — “nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas”.

A Parousia do Nosso Senhor na Ceifa

A linguagem grega é muito exata: um fato que grandemente aumenta o seu valor em dar expressão exata à verdade. Assim, por exemplo, na tradução IBB a palavra vir usa-se para traduzir a trinta e duas palavras gregas, cada uma das quais tem uma pequena distinção de significação. Exemplos: ephistemi significa sobrevir, como em Luc. 21:34 — “vos sobrevenha de improviso”; sunerchomai significa reunir-se, ou ajuntar-se, como em I Cor. 11:18 — “vos ajuntais na igreja”; proserchomai significa aproximar-se, como em Heb. 4:16 — “Cheguemo-nos, pois, confiadamente”; heko significa chegar, ou ter vindo, ou veio, como quando a ação de vir é completada, como em João 2:4 — “Ainda não é chegada a minha hora”; enistemi significa estar presente, e esta traduzida assim, exceto em dois lugares onde deve de ser assim traduzida: 2 Tim. 3:1 — “sobrevirão tempos penosos” — estarão presentes; e 2 Tess. 2:2 — “como se o dia do Senhor estivesse já perto” — presente. Parousia, também, significa presença, e nunca deve ser traduzida vinda, como em traduções das Bíblias em português. Na Versão Revisada da Imprensa Bíblica Brasileira é três vezes traduzida, presença. (2 Cor. 10:10; Fil. 1:26; 2:12) A Edição Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil traduz presença nas mesmas passagens, e também em duas outras. (I Tess. 2:19, 3:13) A versão “Emphatic Diaglott,” uma tradução em inglês muito valiosa do Novo Testamento, traduz parousia propriamente, presença, em quase toda ocorrência da palavra. [159]

As duas palavras gregas, heko e parousia, e seu uso no Novo Testamento, são as que queremos notar no momento, e particularmente a segunda destas; porque uma apreciação correta de sua significação esclarece a maneira da volta do nosso Senhor, por meio de passagens em que ocorrem, enquanto a tradução comum, mas errônea, escurece muito os pontos que deveriam ser iluminados.*

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*A palavra parousia ocorre vinte e quatro vezes no Testamento Grego, e somente três vezes na Versão Revisada — IBB (2 Cor. 10:10; Fil. 1:26; 2:12) está traduzida presença. As outras ocorrências, nas quais está traduzida incorretamente vinda são como segue: — Mat. 24:3, 27, 37, 39; I Cor. 15:23; 16:17; 2 Cor. 7:6, 7. Na Edição Revista e Atualizada — SBB; I Tess. 2:19; 3:13; 4:15; 5:23; 2 Tess. 2:1, 8 (traduzida aparecimento no versículo 9, SBB) Tiago 5:7, 8; 2Ped.1:16; 3:4, 12; I João 2:28.

Com o correto pensamento na mente, quanto ao significado de parousia — não aquele de vinda, como estar a caminho, mas presença, como depois da chegada — nos permitam examiner algumas passagens nas quais a palavra é usada. E destas aprenderemos que presença não necessariamente envolve a visão, senão que aplica-se também as coisas presentes, mas invisíveis. Deste modo, por exemplo, anjos, seres espirituais, podem estar presentes conosco, mas invisíveis assim como o nosso Senhor estava presente no mundo e muitas vezes com os discípulos durante os quarenta dias depois da sua ressurreição, sem ser visto pelo mundo, ou pelos seus discípulos exceto nas poucas ocasiões breves já referidas. Esses dias foram dias da sua parousia (presença), tanto quanto os precedentes trinta e três anos e meio tinham sido anos de sua presença.

Na conversação prévia da pergunta de Mateus 24:3, o nosso Senhor tinha predito a destruição do templo, e a rejeição de Israel segundo a carne até um tempo em que alegremente o reconheceriam como seu Messias e diriam, “bendito o que vem”. Ele tinha dito aos seus discípulos que partiria, e viria outra vez, e os tomaria para si mesmo. Chamou este dia “ceifa” ou fim do mundo (idade), também ele tinha dito a eles da “ceifa” vindoura no tempo [160] da sua segunda vinda. (Mat. 9:37, 38; 13:39, 40) Sem dúvida, lembrando que poucos reconheceram-no como o Cristo no seu primeiro advento, quiseram saber como poderia ser seguramente reconhecido no seu segundo advento — provavelmente esperando que seu segundo advento ocorreria nos seus dias. Daqui por isso eles perguntaram: “que sinal haverá da tua parousia [presença] e do fim do mundo (da consumação do século — SBB)”?

A causa da sua disposição para misturar os acontecimentos finais da Idade Judaica, ou ceifa, nos quais já estavam, com a “ceifa” futura, ou fim da dispensação Evangélica, o nosso Senhor deu um relato bastante detalhado dos eventos que haviam de intervir primeiro, indicando um lapso de um considerável período entre as duas ceifas, todavia não dando nenhuma idéia clara da sua duração; pois ainda ele não sabia nesse então quão longa seria. — Mar. 13:32.

A resposta do nosso Senhor nos versículos 1 a 14 abrange a inteira Idade Evangélica; e as suas palavras nos versículos 15 a 22 têm aplicação dupla — literalmente no fim da Idade Judaica, e figurativamente no fim desta Idade Evangélica, da qual era a Idade Judaica uma sombra. Versículos 23-26 contêm palavras de advertência contra falsos cristos, e no versículo 27 atinge a pergunta deles com respeito a sua parousia, e declara [propriamente traduzida], “assim como o relâmpago [a luz solar] sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a parousia [a presença] do Filho do homem”. A luz solar vem imediatamente, mas silenciosamente; e é discernida primeiro por estes que acordaram-se primeiros.

Deixando os outros característicos intermediários do discurso do nosso Senhor para pesquisa em seu lugar apropriado, notamos a sua segunda referência à sua pergunta a respeito de sua parousia em versículos 37 e 39. Diz: “Pois como foi nos dias de Noé, assim sera também a parousia [presença] do Filho do homem.” Note, que a comparação não é entre a vinda de Noé e a vinda do nosso [161] Senhor, nem entre a vinda do dilúvio e a vinda do nosso Senhor. A vinda de Noé não está mencionada de qualquer modo; nem está mencionada a vinda do nosso Senhor; pois, já como consta, parousia não significa vinda, mas presença. O contraste, então, é entre o tempo da presença de Noé entre o povo “nos dias anteriores ao dilúvio”, e o tempo da presença de Cristo no mundo, no seu segundo advento, antes do fogo — a extrema tribulação do dia do Senhor com que esta idade termina-se.

E ainda que os povos foram maus no dia de Noé, antes do dilúvio, e serão maus no tempo da presença do nosso Senhor, antes que o fogo quente da tribulação venha sobre eles, no entanto este não é o ponto de comparação ou semelhança a que nosso Senhor faz alusão. Pois a maldade tem abundado em toda idade. O ponto de comparação é claramente determinado, e se vê facilmente, se lemos criticamente: Os povos, exceto os membros da família de Noé, foram ignorantes da tempestade próxima, e descrentes quanto ao testemunho de Noé e da sua família, e por isso eles “não o perceberam”; e este é o ponto de comparação. Assim sera também a presença do Filho do homem. Ninguém salvo esses da família de Deus crerão agora. Outros “não perceberão”, até que a sociedade, como agora organizada, começa a dissolver-se com o calor ardente do tempo de tribulação que está por acontecer agora. Isto esta ilustrado pela palavras, “assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento [Lucas (17:28) acrescenta “plantavam e edificavam”], até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, ... assim será também a parousia [a presença] do Filho do homem”. No tempo da presença do Filho do homem, portanto, o mundo seguirá com os seus comes e bebes, plantações, construções, e casamentos — não mencionados como feitos pecaminosos, senão como indicativos da sua ignorância quanto à presença de Cristo, e da tribulação que prevalecerá no mundo. Esta, então, é a resposta do nosso Senhor à pergunta dos discípulos — Que sinal [indicação] haverá da tua [162] [parousia] presença e do fim do mundo ou ceifa da idade? Em substância, disse: Não haverá sinal nenhum para as massas mundanas; não saberão da minha presença e das novas mudanças dispensacionais. Apenas alguns poucos saberão, e eles serão ensinados por Deus (dum modo não explicado aqui) antes de haver qualquer sinal (indicação) que os mundanos possam discernir.

O relato de Lucas deste mesmo discurso (Luc. 17:26-29), ainda que não nas mesmas palavras, está em perfeito acordo. Lucas não usava a palavra parousia, no entanto expressa exatamente o mesmo pensamento, dizendo: “Como aconteceu nos dias de Noé, assim também será nos dias do Filho do homem” — nos dias da sua presença. Não antes dos seus dias, nem depois dos seus dias, mas (durante) seus dias, o mundo estará comendo, bebendo, casando-se, comprando, vendendo, plantando, e construindo. Estas Escrituras, então, claramente ensinam que o nosso Senhor estará presente no fim desta idade, totalmente desconhecido ao mundo, e despercebido por eles.

Ainda que não haverá mais dilúvio para destruir a terra (Gên. 9:11), está escrito que a terra toda será consumida pelo fogo do zelo de Deus (Sof. 3:8) — não a literal, a terra física, em qualquer caso, mas a existente ordem de coisas em ambos casos: na primeira instância realizado por afogamento de todo o povo com exceção da família de Noé; no último, por queimar todos, com exceção da família de Deus, no fogo simbólico — a grande tribulação do dia do Senhor. Os filhos fiéis de Deus serão considerados por merecedores para que possam escapar de todas estas coisas que hão de acontecer na Terra (Luc. 21:36): não necessariamente por estarem ausentes, levados da Terra mas possivelmente por tornarem-se à prova de fogo, como na ilustração típica dos três hebreus que andaram passeando no meio da fornalha de fogo ardente aquecida sete vezes mais do que se costumava aquecer, em cujos mantos, ainda, não havia nem o cheiro de fogo; porque um semelhante ao Filho de Deus estava presente com eles. — Dan. 3:19-25.  [163]

Em seguida notaremos as Escrituras que ensinam que muitos na Igreja, por algum tempo, serão ignorantes da presença do Senhor, e da “ceifa” e do fim desta idade, enquanto ele deveras está presente, e o trabalho da ceifa está em progresso.

Os últimos versículos de Mateus 24, desde 42 até o fim, são muito significantes. No versículo 37 o nosso Senhor tinha mostrado que o mundo não compreendia nada da parousia do Filho do homem; e agora avisa aos seus discípulos professos que, a menos que estejam de guarda, estarão semelhantemente em trevas com respeito a sua parousia. Ele disse: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem [erchomai — chega] o vosso Senhor.” Se pessoas esperassem um ladrão num tempo definido, ficariam despertadas para não serem apanhadas de improviso; portanto vós devereis estar sempre vigilantes, sempre de prontidão, e sempre vigiando pela primeira evidência da minha parousia. Em resposta da vossa pergunta, “quando serão essas coisas”, apenas vos digo vigiai e estai preparados, e quando eu chegar, quando eu estiver presente, comunicarei o fato a todos que são fiéis e estão vigiando, e apenas eles terão o direito de saber. Todos os outros devem e têm que estar nas trevas exteriores, e têm que aprender com e como o mundo — por meio de tribulação.

“Quem é, pois [na “ceifa”], o servo fiel e prudente, que o senhor pôs* sobre os seus serviçais, para a tempo dar-lhes o sustento? Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier [erchomai — quando ele chegar], achar assim fazendo. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens” — todo o vasto armazém de verdade preciosa abrir-se-á a tais servos fiéis, para fortalecer, suprir e alimentar a todos os da família da fé.

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*MSS Vaticano e Sinaítico lê-se “deve fazer.”

Porém se o coração do servo não é reto, dirá: Meu senhor tarda em vir [não tem chegado], e começará espancar [opor e contradizer] os seus conservos [aqueles os que discordam com ele; [164] os que portanto estão declarando o oposto — Meu Senhor não tarda, mas tem vindo, está presente]. Tal pode comer e beber com os ébrios [tornar-se embriagado com o espírito do mundo], mas, virá [grego, heko — chegará] o senhor daquele servo, chegará num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio [por ser um dos servos privilegiado para a tempo dar sustento aos serviçais], e lhe dará a sua parte com os hipócritas [ainda que não será um hipócrita, mas um servo genuíno, ele deve, por causa da incredulidade e exagero, ter a sua parte com os hipócritas na perplexidade e tribulação que está vindo sobre a Babilônia]; “ali haverá choro e ranger de dentes”.

O antecedente, cuidadosamente examinado, nos ensina claramente que no fim desta idade haverá uma classe negando que o Senhor está presente (não negando que ele virá em algum tempo, mas negando que ele veio), e espancando ou asperamente contrariando esses conservos que portanto devem de estar ensinando o oposto — que o Senhor tem vindo. Qual é o fiel, o verdadeiro servo, e qual aquele em erro, está claramente determinado pelo nosso Senhor. O fiel, aquele que encontrar-se dando o “sustento” adequado, será enaltecido e dando-lhes a mais plena administração sobre o armazém da verdade, com aumentada habilidade cada vez maior para apresentá-lo perante a família da fé, enquanto o mau servo será gradualmente separado e cada vez mais persuadir-se-á e concluirá simpatia com os meros professores ou hipócritas. E note o fato de que o que não é fiel é assim cortado, ou separado, num tempo de que não sabe — no tempo da ceifa — enquanto o seu Senhor está realmente presente sem que ele o saiba, escolhendo e ajuntando as suas jóias. — Mat. 13:30; Sal. 50:5; Mal. 3:17; Mat. 24:31.

Especificamos aqui, apenas para mostrar que, em resposta à pergunta dos discípulos acerca de sinais e evidências da sua segunda presença, o nosso Senhor ensinou que nem o mundo nem os servos infiéis estariam cientes dela, até o fogo intenso de tribula [165] ção tiver pelo menos começado. Evidentemente os fiéis o verão presente apenas pelo olho da fé — por meio das Escrituras que dantes foram escritas para o seu ensino, para serem compreendidas no momento em que chega o seu tempo. Verdades presentes em todo assunto são partes dos “seus bens” e tesouro de coisas novas e velhas que o nosso Senhor pôs diante de nos e agora sinceramente dá-nos. — Mat. 24:45-47.

Enquanto desta maneira, por indicações preditas, o Senhor fez preparação ampla para habilitar a Igreja afim de reconhecer a presença dele a seu tempo, ainda que não lhe veriam com o olho natural, também nos avisou cuidadosamente contra enganos que se levantariam — enganos que pareceriam tão plausíveis, de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. No entanto, isto não é possível, porque todos os escolhidos prestam atenção cuidadosa ao aviso, e estudiosamente familiarizam-se com as preditas indicações da sua presença, e estão vigiando por seu cumprimento. Aqueles de diferente opinião não são da classe escolhida. Apenas os vencedores hão de reinar com o Senhor. Estes enganos, como mostrar-se-ão num estudo seguinte, já existem, e estão induzindo muitos a engano. Mas, graças a Deus, os escolhidos estão prevenidos e premunidos, e não enganar-se-ão nem desanimar-se-ão. Embora nuvens e escuridão estão ao redor dele, reconhecem a sua presença, e exultam-se porque a sua redenção se aproxima. Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! [em qualquer lugar particular], não acrediteis. Portanto se vos disserem: Eis que ele está no deserto; não saiais; ou Eis que ele está no interior da casa, não acrediteis. Porque assim como a resplandecente luz do sol, que gradualmente aparece e ilumina sobre a terra, assim será a sua presença. (Mat. 24:23, 26, 27) Manifestar-se-á como predito, pela luz amanhecente da verdade — verdade em todo tópico, como agora a vemos tão rápida e gloriosamente desenvolvendo-se. Ainda uns poucos anos, e plena [166] mente nascerá o Sol da justiça, trazendo curas nas suas asas para abençoar e levantar o mundo acometido de morte.

À vista das evidências apresentadas neste e nos precedentes como também nos seguintes estudos, não hesitamos em anunciar a animadora informação, que o Mestre de novo está presente, como o Líder Ceifeiro — não na carne, como na ceifa judaica, mas com poder e grande glória, como o exaltado soberanamente, o Cristo divino, cujo corpo glorioso agora é “a expressa imagem” do Ser do Pai, ainda que o seu ser glorioso está com benevolência vendado da visão humana. Ele está “inaugurando o seu reino de justiça; a sua foice da verdade está separando; ele está congregando em unidade de coração e mente as maduras primícias do Israel espiritual; e em breve esse “corpo” eleito estará completo e governará e abençoará ao mundo.

Este anúncio é feito aqui, para que enquanto prossigamos o leitor possa ter a idéia mais clara do que as profecias de tempo mais particularmente indicam, quando demonstrar-se-á que a ceifa, e todos os seus concomitantes eventos estão agora cronologicamente devidos, e acontecendo como foi predito.

Assim vistas, estas profecias de tempo e toda esta particularidade de instrução com referência à maneira e às circunstâncias concomitantes da aparição do Senhor não foram dadas para alarmar o mundo, nem para satisfazer à curiosidade ociosa, nem para despertar a uma adormecida igreja nominal; mas foram dadas por norma para que aqueles que não estão dormindo, e que não são do mundo, senão que estão despertos, consagrados e fiéis, e sinceros estudantes do plano do seu Pai, pudessem ser informados da significância dos eventos acontecendo, e não ficarem em trevas sobre o assunto e com respeito a eventos que não são discerníveis de nenhum outro modo com certeza — a ceifa, a presença do grande Ceifeiro, o debulho e a peneiração do verdadeiro trigo, o atar e a queima do joio no tempo de tribulação, etc. [167]

Escárnio e Zombaria Preditos

O apóstolo Pedro descreve como alguns dos servos infiéis e hipócritas escarnecerão com zombaria durante a presença do Senhor, ainda como escarneciam nos dias de Noé. (2 Ped. 3:3, 4, 10, 12) Note que o Apóstolo escreveu à Igreja, e  que os escarnecedores que descreve estão na igreja nominal e declaradamente interessados no plano e trabalho do Senhor, e portanto crentes de que ele virá em alguma ocasião. O escárnio descrito é no mesmo assunto aqui notado, e tal como ouvimos e ouviremos de cristãos professos, em qualquer tempo que apresentase o assunto da presença do Senhor e do trabalho da ceifa, etc. Geralmente os cristãos antes de pesquisarem o assunto, têm tais idéias de manifestações literais de fogo, trombetas, vozes, etc., e de ver o Senhor descendo pelo ar, um brilhante corpo de carne, esses quando ouvem da sua presença invisível, sem tomar o tempo para pesquisar um assunto sobre o qual sentem-se tão seguros, ocupados com planos mundanos, e embriagados com o espírito do mundo, rejeitam a matéria prontamente como indigna de investigação.

É a esta classe de cristãos professos que o Apóstolo faz alusão, dizendo: “nos últimos dias [nos anos finais da Idade Evangélica — na “ceifa”] virão escarnecedores com zombaria, andando Segundo as suas próprias concupiscências [planos, teorias, etc.], dizendo: Onde está a promessa da sua presença [parousia]? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação”. Quando refere-se à declaração do nosso Senhor (Mat. 24:37-39; Luc. 17:26) de que nos seus dias, nos dias da sua presença, as coisas deveras continuariam como antes; e que, como nos dias de Noé, os povos comeriam, beberiam, casariam, plantariam e edificariam; e que, assim como naquele tempo, o mundo não perceberia a sua presença, e não notaria os sinais das rápidas e grandes mudanças exatamente à mão, os povos estão [168] ocupados demais para considerar o testemunho cuidadosamente, e somente continuam escarnecendo com zombaria.

Ah! diz Pedro, esquecem da grande mudança que aconteceu nos dias de Noé; e então, sob o símbolo de fogo, descreve o irresistível dilúvio de tribulação que dentro de pouco tempo alcançará o mundo inteiro, completamente derrotando todo governo civil e eclesiástico [os céus] e dissolvendo a inteira estrutura social [a terra] — produzindo anarquia e caos social até que os novos cues [poderes governamentais — o Reino de Deus] estarão estabelecidos plenamente, tanto como uma nova terra [a sociedade organizada numa nova e melhor base, de amor, igualdade, e retidão]. O Apóstolo então lembra-nos (verso 8) de que este Dia da presence do Senhor, que a Igreja por muito tempo tem esperado e contemplado, é um dia de mil anos — o milênio do reino de Cristo na Terra.

No versículo 10 nos assegura: “Virá [grego, heko — chegará], pois, como ladrão* [despercebidamente, pelas caladas: estará presente, enquanto alguns estão zombando e espancando a esses conservos que declaram a verdade] o dia do Senhor”. Então o Apóstolo exorta aos santos para separação do mundo; que não sejam absorvidos por política, por dinheiro, lucros, etc., mas que ponham as suas afeições nas coisas mais altas. Diz: Visto que no plano de Deus as atuais condições mundanas são apenas temporárias e em breve cederão lugar à melhor ordem, que tipo de pessoas devemos ser em santo procedimento e piedade? — “aguardando ... a presença [parousia] do dia de Deus” — vigiando pelas evidências (sinais) afim de comprovar que tem chegado.

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*Velhos Manuscritos omitem aqui as palavras, “de noite.”

E, graças a Deus, a sua provisão é tão abundante que todos aqueles piedosos, que estão aguardando por esse dia, saberão dele antes da total explosão do fogo da ira. Através do Paulo nos assegura que nenhum dos filhos da luz estarão deixados em trevas, [169] para que aquele dia os surpreenda. (I Tess. 5:4) Portanto, ainda que já estamos no dia da presença do Senhor, e no começo do grande fogo de tribulação, vemos que isto é ainda assim como mostradonos em símbolo (Apoc. 7:1, 2) — a tempestade está mantida sob controle até que os servos fiéis de Deus sejam selados “na sua fronte”: isto é, até que a tais seja dada uma apreciação intellectual do tempo, presença, etc., o que não somente os confortará, e os protegerá, senão também será um sinal, selo ou evidência da sua filiação, como indicado pelo nosso Senhor, quando prometeu, que o Espírito Santo anunciaria aos fiéis “as coisas vindouras”. — João 16:13.

Alguns tomam a declaração de Pedro literalmente, de que “os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão”; e também a descrição do Revelador dos mesmos eventos, por um símbolo muito semelhante, “o céu recolheu-se como um livro que se enrola”. Pareceria, no entanto, que uma olhada dirigida para cima às miríades de jóias da noite resplandecendo através de milhões de milhas no espaço, com nada entre elas para enrolar e remover-se, nem pegar fogo, deve ser argumentação bastante em um momento para convencer a tais que tinham errado em supor que estas declarações sejam literais — deve convencê-los que a sua expectação de um cumprimento literal é absurdo em extremo.

Assim, então, Deus escondeu da humanidade sob figuras de trombetas, vozes, fogo, etc., informação (que não foi para os mundanos saber, senão apenas para o “pequeno rebanho” de santos consagrados) com respeito à ceifa, a presença do Senhor, o seu reino espiritual, etc. E todavia as arranjou para que em seu tempo, falassem claramente e enfaticamente à classe para qual programou a informação. Tal como no primeiro advento, assim a uma classe consagrada similar pode dizer-se agora, no tempo do Segundo advento — “A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas” — em figuras e [170] enigmas — a fim de que, ainda que tenham a Bíblia na frente deles outros fora dos consagrados não possam realmente verem e entenderem. — Mar. 4:11, 12.

O mundo não está ignorante dos eventos e circunstâncias sem precedente do tempo atual, e sua aumentada notabilidade com todo ano que passa. Entretanto não percebendo o grande resultado, estes apenas enchem as suas mentes com escuros presságios do mal. Assim como predito, estão com medo, pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes do céu (os atuais poderes governamentais) estão sendo abalados.

A Ligação da Cadeia Profética

No estudo precedente apresentamos evidência mostrando que os “Tempos dos Gentios” ou seu arrendamento de domínio, terminará plenamente com o ano de 1914 d. C., e que nesse tempo serão derrubados* e o Reino de Cristo plenamente estabelecido. Que o Senhor deve estar presente, e estabelecer o seu Reino e exercitar seu grande poder de tal modo para despedaçar as nações como a um vaso de oleiro, está então claramente determinado. “Mas, nos dias desses reis” — antes da sua derrota — a saber, antes de 1914 d. C. — que o Deus do céu suscitará o seu Reino. E ESTE esmiuçará e consumirá todos esses reinos. (Dan. 2:44) E em harmonia com isto, vemos em toda parte evidência do começo de transtorno, abalo, e derrocamento dos poderes atuais, em preparação para o estabelecimento do reino “que não pode ser abalado” — o governo forte.

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*Quanto tempo isto requererá para executar este derrocamento não está nos informado, no entanto existe razão para crer que o período sera breve”.

O próximo estudo apresentará evidência da Bíblia que 1874 d.C. foi a data exata do começo dos “Tempos da Restauração”, e [171] portanto da volta do nosso Senhor. Desde essa data ele tem estado verificando a sua promessa a esses na atitude própria de vigilância — “Bem-aventurados aqueles servos, aos quais o senhor, quando vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará reclinar-se à mesa e, chegando-se, os servirá.” (Luc. 12:37) Ainda assim, tem aberto para nós as Escrituras, mostrando-nos verdade concernente à sua presente natureza gloriosa, o objetivo, a maneira e o tempo da sua vinda, e o caráter das suas manifestações aos da família da fé e ao mundo. Tem chagado a nossa atenção a profecias que nos colocam definitivamente na corrente de tempo, e tem mostrado-nos a ordem do seu plano de operações neste tempo da ceifa. Tem demonstrado-nos, antes de tudo, que é uma ceifa dos santos, um tempo para o seu pleno amadurecimento, e para sua separação do joio; e em segundo lugar, que é um tempo do mundo para colher a sua ceifa de turbulência — para a vindima dos cachos de uvas da vinha da terra, e o pisar dos seus frutos no grande lagar da ira de Deus Todo-poderoso. Ele tem mostrado-nos que ambos destes amadurecimentos (Apoc. 14:1-4, 18-20) completar-se-ão num período de quarenta anos, terminando com o ano 1915 d.C.*

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*Veja o Prefácio do Autor, páginas III-V.

Mas enquanto o leitor está assim informado de que sera comprovado nos estudos seguintes, não deve esperar passagens das Escrituras apontadas em que estas matérias e estas datas sejam obviamente escritas. Ao contrário, deve tê-lo em mente que todas estas coisas têm sido escondidas pelo Senhor, de tal maneira que não poderiam ser entendidas nem apreciadas até que o devido tempo tivesse vindo, e então somente pelos seus sinceros, filhos fiéis, que estimam a verdade como mais preciosa do que os rubis e os diamantes, e que estão dispostos a procurá-la assim como os povos procuram por ouro e prata. Verdade, como prata, tem que ser não somente minerada, mas também refinada, separada da escória, antes que seu valor possa ser avaliado com precisão. As coisas aqui [172] afirmadas em poucas palavras serão comprovadas ponto por ponto; e enquanto muitos podem preferir tomar uma declaração sem o trabalho de verificá-la nas Escrituras, isto não será o caso com o buscador sincero da verdade. Ele deve, tanto quanto possível, fazer a todo ponto, argumento e sua própria comprovação, diretamente da Palavra de Deus, por traçar todas as ligações, e assim convencendo a si mesmo da veracidade do relatório apresentado.

Ainda que o Senhor previu isto, e os servos dão “a tempo” “o sustento” para os “serviçais”, todavia cada um, para ser fortalecido pelo mesmo, tem que comer este alimento individualmente.

“Meus olhos vêem glória da presença do Senhor;

Já pisa uvas no lagar da grã ira de Deus;

Sua espada deixa já ouvir o seu fragor:

Já marcha nosso Rei.”

 

Glória, Glória, Aleluia! Glória, Glória,

Aleluia! Glória, Glória, Aleluia!

Já marcha nosso Rei.

 

“Juízos Seus que rodeiam a Terra posso ver,

Sinais que preludiam da aurora o nascer;

Eu leio Sua sentença nos tronos a cair:

Já marcha nosso Rei.

 

“Os ‘Tempos dos Gentios’ já chegaram ao fim,

Com eles o pecado e tristeza partirão;

Chegou Leão da tribo de Judá a dominar:

Já marcha nosso Rei.

 

“Já soa sétima trombeta, vence nosso Rei,

Julgar há ante trono, povos e seus corações

Apressa alma minha recebê-lo com amor:

Já marcha nosso Rei.”

 

 

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